PERSONALIDADES MARCANTES
JERÔNIMO JOSÉ DE SOUZA
( 02-01-1830   03-07-1904)

Jerônimo José de Souza, respeitado Capitão da Guarda Nacional, incontestavelmente foi um venerando varão de nossa História e de nossas mais interessantes tradições, o qual não é para ficar esquecido pela posteridade, conforme injustamente assim está acontecendo.

Jerônimo foi um dos maiores empreendedores de nosso município no século XIX. Dividia suas atividades comerciais e agropecuárias com Itajubá e São Caetano da Vargem Grande (ora Brazópolis), com residência e fazenda lá e aqui. Aliás, a Vargem Grande, naquele tempo, também era Itajubá, como um de seus mais prósperos distritos.

Nasceu em Braga, Portugal, filho dos honrados bracarenses José Joaquim da Silva e de D. Maria Luíza Rosa Abondana. Veio para o Brasil aos 8 anos de idade, com seus pais, que se estabeleceram no Rio de Janeiro com um modesto botequim. O Sr. José Joaquim, contudo não se deu bem com os brasileiros, e ele e esposa, alguns anos depois, voltaram para sua pátria, mas Jerônimo, já então adolescente, ficou no Brasil, tomando-se balconista de um empório. Passando pela então Capital o exportador Joaquim Pereira da Silva, Barão de Monte Verde, levou-o para Pouso Alto-MG, de onde, pouco depois foi para Canno do Rio Verde (ora Carmo de Minas), também no Sul de Minas. E foi em Carmo de Minas que fez amizade com o compatriota, que o levou para Vargem Grande, onde Jerônimo se tomou administrador e capataz de algumas fazendas.

Na Vargem Grande se casou, em 28-11-1855, com D. Gertrudes Pereira da Silva, seu nome de solteira, passando a assinar, depois de casados, Gertrudes Pereira de Souza (17-03-1833; 30-03-1912).

D. Gertrudes era filha de José Pereira da Rosa, natural de Santo Antônio da Ilha do Pico, Açores (Portugal), e de D. Feliciana Maria da Silva, natural de Baependi-MG, casados em 07-01-1823 na matriz nova de Itajubá, feita em tomo da capelinha tosca de sapé na qual o Padre Lourenço provisoriamente celebrava os ofícios sagrados.

O primogénito do casal Jerônimo e Gertrudes foi José Pereira de Souza Rosa, casado com D. Maria Cândida Cintra (Cotinha), que foram os pais de Ludgero Pereira Cintra. E Ludgero foi o pai do saudosíssimo parlamentar e grande amigo e benfeitor de Itajubá Euclides Pereira Cintra. Portanto, o Capitão Jerônimo José de Souza foi o bisavô do deputado Cintra.

Foram os seguintes os filhos do austero e bravo Capitão Jerônimo José de Souza e D. Gertrudes Pereira de Souza:

1- José Pereira de Souza Rosa (1856; 07-11-1906), que não deve ser confundido com José Pereira da Rosa, o pai de D. Gertrudes. O primeiro era casado com D. Maria Cândida Cintra (Cotinha), os pais de Ludgero Pereira Cintra, os avós do inesquecível Euclides Pereira Cintra.

2- D. Maria Tereza de Souza (1857-1924), casada com João Gonçalves Cintra (Janjão).

3- Antônio Pereira de Souza, casado, em primeiras núpcias, com D. Maria Madalena da Fonseca; em segundo matrimônio, em 1901, com D. Auta Pinto de Oliveira.

4- D. Feliciana Pereira de Souza, casada, em primeiras núpcias, em 28-06-1887, com Casimiro Bessa Leal; em segundo matrimônio, com João Martins Serôdio, português, comerciante.

5- João Pereira de Souza (1861-1914), casado com D. Maria Cristina Tenório.

6- D. Ana Pereira de Souza (1863), casada em 05-05-1883, em Brazópolis, com Casimiro José Osário, português, industrial de açúcar, estabelecido nas propriedades do Campestre, em terras do município de Pedra Branca (Pedralva).

7- D. Rita Pereira de Souza (1872-1939), casada em 15-09-1888, com Artur Gomes da Rocha Azevedo, farmacêutico.

8- Pedro Leão de Souza Guarany (28-06-1873), advogado pela Faculdade de Direito de São Paulo, casado, em primeiro matrimônio, em 16-06-1894, com D. Elvira de Noronha Lopes Ribeiro, de Paraisópolis, falecida em 20-01-1904; em segundo matrimônio, em 08-09-1908, com Almerinda de Noronha Lopes Ribeiro.

9- Francisco Pereira de Souza Tibiriçá (Chiquinho), nascido em 2007-1873, engenheiro topógrafo, falecido em Queluz-SP, em outubro de 1923, casado com Ana Rodrigues de Souza (Sinhazinha).

O Capitão Jerônimo José de Souza, íntegro e honrado, foi exigente na valorização de seu trabalho, soube economizar, prosperou, montou suas fazendas e seus estabelecimentos. comerciais. De simples caixeiro de balcão que, na mocidade, havia sido no Rio de Janeiro, tomara-se, em Itajubá e em São Caetano da Vargem Grande, um dos primeiros exportadores sulmineiros de fumo em corda, café e couros. Foi o genearca de uma das mais distintas e nobres famílias desta região, de arrojados empreendedores e realizadores, homens de reconhecidos méritos e vários intelectuais, de esforçados promotores do progresso e da ordem. De moças e senhoras de encantadora educação, virtuosas e prendadas, que se tomaram alicerces de lares cristãos e de elevada substrução moral e dignificante, toda uma descendência na qual se nomeiam hombridades do nível de um Euclides Pereira Cintra, ou um genro com a pujança do padrão de um Casimiro José Osório, o pioneiro da indústria açucareira no sul de Minas, o construtor do Grande Hotel em Itajubá, pai de Manuel Osário (Maneco, na intimidade), engenheiro químico industrial, e de Sebastião Osório, engenheiro pelo então IEMI (a UNIFEI de hoje), diplomado com a 2ª turma, em 1918, catedrático da mesma UNIFEI...

De um biógrafo do Capitão Jerônimo colhemos as seguintes notas:

"Montou fazenda, foi homem extraordinariamente ativo, negociante em artigos de exportação. Era rude, de gênio violento, mesmo com os filhos, porém foi um exemplo de virtudes hoje raras, com a lealdade, a honestidade rigorosa em todos os passos da vida, o capricho em cumprir a palavra mesmo com prejuízo pecuniário. Tinha o gênio violento, mas possuía excelente coração e, por isso, protegeu muita gente. Revelou sempre grande amor pela família, que tratou com todo o conforto, procurando educar a todos os filhos e filhas, dois dos quais se diplomaram em escolas superiores do País.

Era particularmente sensível à arte musical, mandando ensiná-la a todos os filhos, sendo que as suas quatro filhas aprenderam a tocar piano nos colégios onde estiveram. Uma delas, Rita Pereira de Souza, foi discípula do maestro João Gomes, em Pindamonhangaba.

Como homem de negócios foi extraordinariamente ativo e dinâmico. Sem entrar diretamente na política, de que sempre se manteve afastado, sempre gozou de grande estima e influência nos meios econômicos locais e vizinhos"

Em 23-10-1860 foi-lhe concedida a naturalização de brasileiro. Em 20-01-1880 era o Cap. Jerônimo homenageado por uma multidão de amigos e admiradores, com banda de música com seus dobrados festivos, em sua residência, para felicitá-lo pela sua nomeação oficial de Capitão da Guarda Nacional. "Usaram da palavra dois oradores" - diz "o Clarim'. "Os senhores Vicente Dias de Souza (de Itajubá) e Brígido Ferreira (da Vargem Grande)".

O Capitão Jerônimo acolhia, com satisfação e entusiasmo, os imigrantes italianos que procuravam trabalho na lavoura. Ele via no adventício europeu o braço liberto necessário e oportuno para afastar os africanos da escravidão.

Quando, aqui em Itajubá, foi aberto o LIVRO DE OURO para acolher a adesão dos abolicionistas que concordavam em libertar todos os escravos do nosso município (e São Caetano da Vargem Grande, hoje Brazópolis, pertencia a Itajubá), o Capitão Jerônimo foi um dos primeiros a deixar o seu nome no referido livro, assentindo em libertar todos os seus cativos, sem ônus para o município.

A travessia do rio Sapucaí (bastante volumoso naqueles idos) se fazia, até dezembro de 1883, por meio de barcos. Havia barqueiros e jangadeiros que atravessavam pessoas, cargas e animais de uma à outra margem mediante pagamentos por eles tabelados, mas com a aprovação da Câmara Municipal.

Um desses balseiros era o italiano Francisco Sanches (Chico do Brinquinho, que punha um seu escravo nesse serviço). Uma memorável cotização foi levantada para a construção de uma ponte de madeira, com cobertura de zinco, para ser construída a aproximadamente 150 metros abaixo do local onde, cerca de meio século depois, o engenheiro Randolfo Paiva construiria a ponte de arcos, de concreto armado.

O Capitão Jerônimo foi o mais entusiasta dessa construção. Contribuiu com dinheiro e 15 carradas de pedras. Prontificou-se ainda a cooperar com a gratuidade da mão-de-obra de escravos para levar o madeiramento, em carro de bois, ao local da obra.

A inauguração ocorreu em 07-12-1883. Foi uma das maiores festas populares de que se têm notícias, em Itajubá, no século XIX. José Pereira dos Santos, advogado e Agente Executivo Municipal (Prefeito), pôs, à disposição dos apreciadores da boa pinga, dois tonéis da melhor suor-de-alambique produzido em Piranguçu. Os fogueteiros Antônio José Gonçalves Barbosa e Antônio Rodrigues Pereira não "venceram" toda a encomenda de foguetes e de bombas festivas. O ato inaugural foi solenizado por um grupo de autoridades e pessoas gradas, entre as quais José Pereira dos Santos (Prefeito), Adolfo Augusto Olinto (Juiz de Direito), Frederico Schumann (farmacêutico), Aureliano Moreira Magalhães (advogado e chefe de Polícia, fundador e redator do jornal "O Itajubá"), Dr. Américo da Silva Oliveira (médico), o Coronel Antônio José Rennó, o Coronel Francisco Braz Pereira Gomes e outros senhores e algumas matronas, não faltando - é claro! - o Capitão Jerônimo José de Souza, que se apresentou fardado. Esse bloco de Gente importante atravessou a ponte, "de uma cabeça à outra" ao som vibrante e entusiástico do dobrado executado pela banda de música, que desfilou logo atrás do bloco inaugural. Os estrondos de bombas e de foguetes e rojões, o vivório da multidão postada nas margens do rio foi ensurdecedor Estava, assim, inaugurada a histórica Ponte de Zinco!.

A morte do Capitão Jerônirno ocorreu em São Caetano da Vargem Grande (Brazópolis) "Deixou uma herança avaliada, na época, em 212 contos de réis".

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