Um grande artista no anonimato. Não era um músico que tocava apenas "de ouvido", como tantos outros que existem e existiram por aí, mas um profundo conhecedor de música teórica, que nunca se projetou nos grandes meios artísticos e culturais por culpa de sua excessiva modéstia e humildade, e, pela época em que viveu, em que música, no interior do País, nas pequenas cidades e povoações, não dava pão a ninguém.
João Mendes nasceu com alma concretizada com sons. Não tinha dinheiro para frequentar um conservatório ou procurar mestres abalizados, mas com seus esforços próprios, e o auxílio de um rico violoncelista e de um sacerdote, ambos amantes da divina Arte, conseguiu prodígios em sua juventude.
Dedicou-se a instrumentos de sopro, embora também tivesse bons conhecimentos de instrumentos de corda. Quando menino chegou a tocar o oboé e fagote, mas, como em todas estas nossas plagas sertanejas não existiam orquestras, das quais pudesse participar com trompetes de pistons ou semelhantes, teve de resignar-se a participar de bandas de música. Era o que havia.
E foi o maestro da filarmônica da Fábrica de Armas (IMBEL). Excelente banda de música das décadas de 1940 e 1950 (em 1960 já em decadência, com a falta de sua velha-guarda), da qual modestamente participava com sua tuba. João Mendes compôs muita música popular bonita, inclusive polcas, valsas e dobrados. Displicente, e não sabendo valorizar sua inspiração e talento, não guardava nada. Dizia Berlioz que a música é a "Arte que emociona, pelos sons, os homens inteligentes".
João Ribeiro Mendes era um homem inteligentíssimo. "Ele era a própria Arte", assim o classificou um cronista. Muitas festas religiosas, cívicas, comemorativas ou esportivas, dos meados do século XX, tiveram o brilhantismo e a animação da música comandada por João Mendes. Em homenagem à sua memória, aqui deixamos estas ligeiras notas.
No retrato, de quando ainda jovem, ele está com sua esposa, D. Maria Santana (nascida em 1900) junto de dois filhos.