PERSONALIDADES MARCANTES
WENCESLAU BRAZ PEREIRA GOMES. DR.
(26-02-1868  15-05-1966)

Foi uma das personalidades mais marcante que nos honrou e engrandeceu a cidade de Itajubá.

É bem verdade o que disse Assis Chateaubriand: "Para uma gorda porcentagem de compatriotas, o assunto Wenceslau Braz é como a mata virgem. Conserva sempre segredos que não foram ainda revelados". ("Diário de São Paulo", 07-07-1966).

O decreto n°355, de 27-09-1848, do Presidente da Província de Minas Gerais Bernardino José de Queiroga (hoje se diz Governador do Estado) que emancipou Itajubá (no século passado, os municípios se emancipavam ficando sua sede com a classificação de vila. Cidade era considerada muito depois, como uma promoção urbanística, determinada pelo progresso do lugar). O novo município assim criado abrangia o distrito da Sede (incluindo-se Piranguçu), Espírito Santo dos Cumquibus (Cristina), Soledade de Itajubá (Delfim Moreira), São Sebastião da Capituva (Pedralva) e São Caetano da Vargem Grande, arraial formado ao redor da Capela da Laje, que posteriormente teve o nome de Vila Braz, e hoje é a cidade de Brazópolis. Pois foi em São Caetano da Vargem Grande que, em 26 de fevereiro de 1868, nasceu Wenceslau Braz Pereira Gomes.

Wenceslau, pois, nasceu itajubense, já que São Caetano era distrito de Itajubá, e o seria até 16-09-1901, data em que o estadista já havia completado a "idade de Cristo", e já era o Secretário do Interior de Minas Gerais, no Governo estadual de Silviano Brandão. Wenceslau Braz era filho do Cel. Francisco Braz Pereira Gomes (28-06-1840; 25-02-1914), nascido na fazenda do Bom Sucesso, então pertencente ao município de Itajubá, ora Brazópolis. Foi deputado, pelo Partido Conservador, à Assembléia Provincial de Minas Gerais, no biênio 1888-1889.

Reeleito para o biênio seguinte, não chegou a tomar posse. O Cel. Chico Braz (assim era chamado na intimidade) foi Vereador em Itajubá e Agente Executivo de nossa cidade (hoje se diz Prefeito). Casou-se em 1859 com D. Isabel Pereira dos Santos (1845; 1905), a virtuosa mãe, o então futuro Presidente da República.

O Ten. Cel. Caetano Ferreira da Costa e Silva, bisavô materno de Wenceslau Braz, foi homem voluntarioso e destemido. É o fundador de Brazópolis. Deve-se a ele a construção da Capela da Laje, em cujo redor formou-se o bairro de São Caetano da Vargem Grande, que foi o berço de Wenceslau. O santo patrono do lugar, São Caetano, foi uma exigência sua, que quis no orago da capela o Santo de seu nome, seu xará … Valente, respeitado e rico, armou, à sua custa, um pelotão de bravos voluntários brazopolenses e itajubenses, e foi, com esses guerreiros, ajudar o pelotão partido de Pouso Alegre, comandado por Julião Florêncio Meyer, a dar combate aos insurretos da revolução liberal de 1842, que se achavam entrincheirados em Baependi e imediações, afugentando-os do sul de Minas. Esse memorável vulto de nossa História faleceu em 25-08-1865.

Uma ocorrência deveras notável ficou assinalada na primeira infância de Wenceslau Braz. Em 2 de dezembro de 1868 Itajubá, em festividades como nunca houve igual no século XIX, com profusão de fogos riscando o céu, badalar de sinos, bandas de música e ruas enfeitadas com flores e engenhosos galhardetes, recebia exultante a visita da Princesa Isabel, de seu marido Conde d'Eu, e de sua numerosa comitiva. Entre os cidadãos mais destacados que a foram cumprimentar no dia seguinte, estava o Cel. Francisco Braz, ficando sua esposa mais afastada, junto de um grupo de senhoras, tendo ao colo um robusto menino de nove meses de idade. A Princesa encantou-se com a criança e, a seu pedido, uma açafata tomou dos braços de D. Isabel Pereira dos Santos o pimpolho, levando-o à ilustre filha de D. Pedro II, que o acariciou efusivamente.

E não poderia mesmo a Princesa imaginar que ela, a legítima herdeira do trono do Brasil, acabava de afagar o robusto meninote Wenceslau que, um dia, seria ele, e não ela, a maior autoridade do País!...

Foram oito os filhos do Cel. Francisco Braz Pereira Gomes e D. Isabel Pereira dos Santos: Henrique Braz Pereira Gomes, José Braz Pereira Gomes, WENCESLAU BRAZ PEREIRA GOMES, D. Júlia Amália Gomes Rennó (casada com Antônio Rennó Júnior, filho do Coronel Rennó), Artur Braz Pereira Gomes, Armando Braz Pereira Gomes, D. Julieta Braz de Oliveira Castro (casada com Antônio V. de Oliveira Castro) e D. Julita Braz Fonseca (casada com Euclides de Moura Fonseca, falecido em 1973 com 89 anos, filho de José da Cruz Fonseca e de D. Gabriela de Moura Fonseca. Euclides foi grande comerciante e exportador. Residiu, na primeira década do século XX, nos EUA, viajou por toda a Europa, foi o Agente do Lóide (Lloyd, grafia antiga) Brasileiro em Santos na década de 1920, e foi ele quem mandou esculpir, na Alemanha, a estátua, em tamanho natural, de D. Gabriela Fonseca, sua mãe, que, colocada junto ao seu jazigo em nossa necrópole, ficou popularmente conhecida como a Mulher de Bronze…

O então menino Wenceslau, aos oito anos de idade, teve como primeiro professor o mestre Evaristo José Rebelo, em aulas particulares, em São Caetano da Vargem Grande sua terra. Mestre Rebelo adotava a cartilha denominada "Novo Methodo Portuguez para o Ensino da Literatura" (ortografia da época), de Jacob Bensabat, editada pela Livraria Internacional, dos livreiros Chardron, estabelecidos no Porto e em Braga (Portugal). Por essa cartilha ele aprendeu a ler e escrever, e foi o primeiro livro que leu em sua vida. No ano seguinte, frequentou a "escolinha" do Professor Ezequiel Correia de Mello.

No jornal "O Itajubá", no n° de 27-12-1879, lia-se a seguinte notícia: "A 3 do corrente fizeram exames, na mesma freguesia da Vargem Grande, 43 alunos do sexo masculino, regida pelo Sr. Ezequiel Correia de Mello. Pela Ata os exames que vimos consta que foram satisfatórios os resultados obtidos, saindo muitos alunos prontos das matérias que ensinavam naquela aula, obtendo distinção, em todos, o aluno Wenceslau Braz Pereira Gomes. O Sr. Correia de Mello já é bastante conhecido como ótimo professor" Concluído o curso primário, o Cel. Francisco Braz matriculou-o, em 1881, no Colégio Moretzsohn (mais tarde transtornado em Ateneu Paulista). Frequentou depois o Ginásio e Seminário Episcopal, onde Wenceslau terminou o curso de Humanidades e todos os preparatórios para ingressar na celebérrima Faculdade de Direito do Largo São Francisco, de São Paulo, o que ocorreu em 1886, e ele com os jovens e também novos acadêmicos do curso jurídico Joaquim Solidônio Gomes dos Reis, Luiz Gastão d'Escragnolle Dória, Alfredo Gustavo Pujol, Delfim Moreira da Costa Ribeiro (primo de Wenceslau), Cristiano Pereira Brasil (itajubense), Washington Luiz Pereira de Souza (que também seria Presidente da República), Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (que seria Governador de Minas Gerais) e outros moços que se notabilizaram como políticos, magistrados, juristas, etc.

Já na ancianidade, Wenceslau Braz, em sua casa, saudoso dos tempos de moço e bem-humorado, ao repórter de "O Jornal", em 26-02-1964, dia de seu aniversário, confessou que, em sua mocidade, fora "levado da breca", sobretudo quando acadêmico, em São Paulo, em companhia de outros estudantes. E uma de suas maiores "travessuras" aconteceu com a vinda ao Brasil da internacionalmente famosa atriz francesa Sarah Bernhardt, em 1886. Porém, Wenceslau, naqueles dias, nem ele nem Delfim Moreira, seu colega de "república", ainda não haviam recebido a mesada paterna, e ambos estavam "na lona", mas não queriam, perder a representação de A Dama das Camélias, pela célebre Sarah, no Teatro Lírico, no Rio de Janeiro. Que fizeram então? Puseram no "prego" o valioso relógio de ouro do colega Cristiano Brasil. Foi a "salvação". Presente estava, no camarote imperial, Sua Majestade Dom Pedro II, que era contemplado, com o binóculo, pelos dois amigos e parentes. Pilheriando, disse Wenceslau a Delfim: "Que sensação estranha! Visto pelo binóculo, me pareceu que era eu que estava dentro do fardão do monarca!" A rir, respondeu-lhe Delfim: "Pois, veja que coincidência! Eu senti a mesma coisa!" E realmente, ambos foram Presidente da República, os Chefes máximos do Governo do Brasil...

Em 11 de dezembro de 1890 Wenceslau Braz Pereira Gomes recebeu o diploma de advogado. Daqui em diante tomar-se-ia o homem público.

Silviano Brandão e outros prestigiados chefes políticos levantaram a candidatura de Wenceslau para deputado estadual, mas o brazopolense recusou a indicação de seu nome, alegando não ter ainda a idade legal para uma curul na Assembléia Mineira. Quis primeiro estrear o seu diploma de bacharel em ciências jurídicas, conquistado com brilhantismo. E foi instalar seu escritório de advogado em São Carlos de Jacuí (topônimo desde 1923 reduzido para simplesmente Jacuí). E foi o primeiro Promotor da Comarca de Jacuí, que então era criada pela Lei n° 11, de 13 -11-1891. Pouco atuou na promotoria jacuiense o saudoso mineiro. O Decreto n° 243, de 21-11-1890, havia criado a comarca de Monte Santo de Minas, mas sua instalação só ocorreu em 31-03-1892. Nesta data, empossou-se como seu I o Juiz de Direito o Dr. Severino Eulógio de Rezende, e Wenceslau Braz foi transferido para nova comarca, tomando posse como seu 1° Promotor Público, mudando-se de Jacuí. O povo montesantense elegeu-o Vereador, e os edis elegeram-no Presidente da Câmara Municipal, ou seja, conforme a lei de então, tomou-se Wenceslau Braz o Agente Executivo Municipal (hoje denominado Prefeito). Incentivou grandemente a agropecuária, instalou a canalização de água potável na cidade, melhorou as estradas do município e realizou obras de saneamento, muito agradando a população montesantense. Já casado, e quando, pela primeira vez, já no desempenho do cargo de Deputado Estadual, ainda residiu, por poucos meses, em Monte Santo de Minas.

Wenceslau Braz Pereira Gomes casou-se em 12-09-1892, em Itajubá, com D. Maria Carneiro Pereira Gomes, filha do Cel. João Carneiro Santiago Júnior e de D. Lucinda Pereira Guimarães Santiago. Foram sete os filhos do casal: 1- Dr. José Braz Pereira Gomes, médico, casado com D. Silvia Carvalho Vaz; 2- D. Odete Braz, casada com o Dr. Sady de Carvalho; 3- Francisco Wenceslau Braz, casado com D. Lucy Chamberiand Braz; 4- Dr. João Braz Pereira Gomes, Engenheiro, casado com D. Maria de Lourdes Pereira Gomes; 5- Mário Braz Pereira Gomes, químico, casado, em primeiras núpcias, com D. Luíza Le Bon Régis Gomes, e, em segundo casamento, com D. Maria Helena Fleming Braz; 6- D. Maria Isabel Braz, casada com o Dr. José de Oliveira Marques; 7- D. Maria de Lourdes Braz Scarpa, casada com o Dr. José de Lourdes Salgado Scarpa.

Em 1892 foi Wenceslau Braz eleito Deputado Estadual (posse em 1893). Reeleito em 1894 (posse em 1895), voltou para Ouro Preto, então a Capital de Minas Gerais, reassumindo a curul na Assembléia Legislativa Mineira, quando passou a desempenhar também o cargo de Secretário da Mesa.

Em 1898 (com a sede governamental já em Belo Horizonte), Silviano Brandão, Presidente de Minas Gerais (hoje se diz Governador), exigiu o concurso de Wenceslau em sua gestão, confiando a Pasta de Secretário do Interior ao preclaro estadista de Itajubá.

Em 1903 Wenceslau foi eleito Deputado Federal, reeleito em 1906. Foi quando ele, por iniciativas suas, conseguiu apaziguar o povo (havia até exaltados que desejavam linchar o Presidente da República, que era Rodrigues Alves) que tumultuava o País ante o problema da obrigatoriedade da vacina contra a varíola grassante, e o combate aos mosquitos transmissores da peste (o povo não acreditava nas medidas tomadas pelo competente bacteriologista Oswaldo Cruz ... ).

Falecendo, em 1908, o Presidente de Minas Gerais (ora se diz Governador) João Pinheiro da Silva, assumiu o poder o Vice-Presidente Júlio Bueno Brandão, e isso enquanto se procedia à eleição do Presidente que deveria completar o quadriênio. Eleito foi Wenceslau Braz Pereira Gomes, que assumiu o governo das Alterosas em 2 de abril de 1909 permanecendo até 7 de setembro de 1910, quando, então, devolveu o poder a Júlio Bueno Brandão, agora eleito Presidente para o quadriênio 1910-1914.

Não dispomos aqui de espaço para reproduzir, mesmo muito resumidos, os entendimentos e desentendimentos, as opções e renúncias, etc. que assinalaram o caso Davi Campista e a escolha do candidato à Presidência da República, para sucessor de Afonso Pena. Depois de muitos e acalorados debates, ficou decidido que os candidatos seriam o Marechal Hermes da Fonseca, e Wenceslau Braz.

E assim, subiu mais um degrau na sua ascensão política o estadista de Itajubá, que se tomou o Vice-Presidente da República do Brasil no quadriênio 1910-1914. Hermes da Fonseca, nas eleições de 1° de março de 1910, teve 403.867 votos, e Wenceslau 406.012. A chapa de Vice não era, como agora, vinculada à de Presidente. Finalmente, Wenceslau Braz Pereira Gomes foi o candidato a Presidente da República para o quadriênio 1914-1918. Segundo o jornal "O Estado de Minas", de 10-02-1972, "quando Wenceslau Braz iniciou sua campanha política, visando à Presidência da República, ficou em moda a canção:

Wenceslau Braz ao assumir a Presidência da República

Vamos, vamos minha gente
Tocar o nosso berimbau!
Vamos dar o nosso voto
Ao seu doutor Wenceslau!


Realizadas as eleições de 1° de março de 1914, Wenceslau Braz obteve 532.107 votos (resultado em época de poucos eleitores, e quando as mulheres não votavam), e Urbano Santos da Costa Araújo, seu Vice, eleito com 556.127 votos. Concorreu com Wenceslau o grande Rui Barbosa, que conseguiu apenas 47.782 votos. Foi a terceira vez que a colossal Águia de Haia concorria malogradamente a eleições presidenciais. O Vice de Rui foi Alfredo Ellis.

Wenceslau Braz, em 15 de novembro de 1914, no Senado Federal assumiu o Governo do Brasil O Chefe de Itajubá tomou-se o Chefe do País. E a gestão do homem de São Caetano da Vargem Grande foi muito perturbada por vários acontecimentos, conforme veremos a seguir.

E isso, a partir do ponto de vista do Presidente com respeito a proselitismo faccioso. Wenceslau era avesso a partidos políticos. Segundo admitia, o novo Presidente, o senador, o deputado, o vereador, uma vez eleito, tomava-se uma autoridade a serviço do povo, e não de um partido. Com esse critério, nomeava ministros, secretários e demais assessores sem se preocupar com greis desta ou daquela cor opcional da politicagem dominante. Assim criteriosamente agindo, encontrou o primeiro embate de seus opositores. E este primeiro entrave ocorreu com o poderoso e prestigiado gaúcho de Cruz Alta, o senador José Gomes Pinheiro Machado, o mais famoso caudilho da história republicana brasileira. Era Pinheiro Machado quem mandava e desmandava no Governo do Brasil. Consta que as decisões governamentais de Afonso Pena, de Nilo Peçanha e, sobretudo, de Hermes da Fonseca, partiam desse mandachuva sagaz e influente. E sua preferência era também imposta a mais de 15 Estados. A primeira resistência do temido caudilho, encontrou-a ele no substituto do Marechal Hermes. Pinheiro Machado apresentou ao novo Presidente a relação dos ministros e de outras autoridades que, a seu ver, deviam ser nomeados. Wenceslau Braz recusou-lhe os nomes indicados, advertindo-o energicamente de que a escolha dos que deviam exercer cargos de confiança do Governo da República era atribuição do Presidente!... Pinheiro Machado, também em outras questões e oportunidades, não conseguiu se impor nos atos do estadista mineiro. Em quem ele esperava encontrar um Wenceslau Braz, em 15 de novembro de 1914, no Senado Federal, assumiu o Governo do Brasil. O Chefe de Itajubá tomou-se o Chefe do País. E a gestão do homem de São Caetano da Vargem Grande foi muito perturbada por vários acontecimentos, conforme veremos a seguir.

E isso, a partir do ponto de vista do Presidente com respeito a proselitismo faccioso. Wenceslau era avesso a partidos políticos. Segundo admitia, o novo Presidente, o senador, o deputado, o vereador, uma vez eleito, tomava-se uma autoridade a serviço do povo, e não de um partido. Com esse critério, nomeava ministros, secretários e demais assessores sem se preocupar com greis desta ou daquela cor opcional da politicagem dominante. Assim criteriosamente agindo, encontrou o primeiro embate de seus opositores. E este primeiro entrave ocorreu com o poderoso e prestigiado gaúcho de Cruz Alta, o senador José Gomes Pinheiro Machado, o mais famoso caudilho da história republicana brasileira. Era Pinheiro Machado quem mandava e desmandava no Governo do Brasil. Consta que as decisões governamentais de Afonso Pena, de Nilo Peçanha e, sobretudo, de Hermes da Fonseca, partiam desse mandachuva sagaz e influente. E sua preferência era também imposta a mais de 15 Estados. A primeira resistência do temido caudilho, encontrou-a ele no substituto do Marechal Hermes. Pinheiro Machado apresentou ao novo Presidente a relação dos ministros e de outras autoridades que, a seu ver, deviam ser nomeados. Wenceslau Braz recusou-lhe os nomes indicados, advertindo-o energicamente de que a escolha dos que deviam exercer cargos de confiança do Governo da República era atribuição do Presidente!... Pinheiro Machado, também em outras questões e oportunidades, não conseguiu se impor nos atos do estadista mineiro. Em quem ele esperava encontrar um Proteu, deparou com um Catão! O caudilho gaúcho era homem de brigas, um destemido turuna. Bateu-se em duelo, com pistola, com vamos desafetos. Inimizando-se com alguns politicões, encontrou um fim trágico. Foi apunhalado, pelas costas, no Hotel dos Estrangeiros, no Rio de Janeiro, em 1915, por Francisco Manso de Paiva, sem nunca revelar nomes de mandantes ou o que motivou esse homicídio.


Visita de Wenceslau Braz, então Presidente da República, em 1917, ao Parque das Águas de Caxambu.

E foram os seguintes os ministros escolhidos e nomeados por Wenceslau Braz: JUSTIÇA E EXTERIOR - Carlos Maximiliano Pereira dos Santos; RELAÇÕES EXTERIORES - Lauro Severiano Müller (que teve como substituto o Dr. Luiz Martins de Souza Dantas e Nilo Peçanha); FAZENDA - Sabino Alves Barroso Júnior (teve como substitutos João Pandiá Calógeras, Augusto Tavares de Lira e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada); VIAÇÃO E OBRAS PÚBLICAS - Augusto Tavares de Lira; AGRICULTURA, COMÉRCIO E INDÚSTRIA - João Pandiá Calógeras (substituído por José Rufino Bezerra Cavalcanti e J.G. Pereira Lima); GUERRA (EXÉRCITO) General de Divisão José Caetano de Faria; MARINHA - Almirante Alexandrino Faria de Alencar.

Wenceslau Braz encontrou o Brasil em situação financeira desastrosamente minguada, com casos difíceis de resolver, como o que ocorria com a Inglaterra, relativo a empréstimos; as rendas públicas eram insuficientes para as despesas ordinárias, havendo avultados déficits nacionais e enorme dívida flutuante; o Tesouro sem recursos e o crédito abalado; os títulos públicos estavam desvalorizados; o câmbio em baixa; a importação e exportação profundamente abaladas; o comércio e a indústria em condições precaríssimas e o desemprego era angustiante; as Forças Armadas se encontravam desaparelhadas, sem condições de oferecer a segurança à Nação Brasileira. Foi este o País que os Governos anteriores "empurraram" para o quadriênio 1914-1918. Wenceslau assumiu a tutoria de um mendigo atolado em dívidas, de baú sem um centavo, e com a premência de "se virar" para acudir às necessidades inadiáveis de um pupilo carente. Aos criticastros que preferem malsinar o Governo de Wenceslau Braz, cumpre-lhes, se ponderados forem, que, antes de fazê-lo, examinem criteriosamente a imagem financeira do País que o "Pescador do Sapucaí" encontrou, e sobretudo, que esses zoilos, conscientizem como foi que Wenceslau, com a inatacável honradez que lhe era própria, e com o elevado mérito de capacidade administrativa, conseguiu contornar com dignidade a situação nacional e realizar um Governo digno, equilibrado na balança do dinheiro público, operando "milagres" que não teríamos aqui espaço, nesta tão breve súmula, para expor os pormenores das iniciativas tomadas por Wenceslau para salvar a Pátria. Porém, há obras que elucidam satisfatoriamente esse tumultuado episódio de nossa História, do período 1914-1918, entre outras o opúsculo "O Governo Wenceslau Braz", editado pelas Industrias Gráficas Itajubá (empresa de "O Sul de Minas") de 1955.

Fotografia de julho de 1917, em Brazópolis (então Vila Braz), ao deixarem as autoridades o Clube Wenceslau Braz. À frente, no centro, está Wenceslau Braz, então Presidente da República, entre o Cel. Henrique Braz, à sua direita (n° 2), então Presidente da Câmara Municipal de Brazópolis, e o Dr. Cristiano Brasil, Deputado Federal (n° 3) Foram múltiplos os acontecimentos que sobremodo perturbaram o Governo de Wenceslau Braz. Por exigüidade de espaço, citemos, por alto, os seguintes:
O CASO SODRÉ-PEÇANHA - Neste, como em outras situações, Wenceslau tivera de agir como um Salomão para encontrar soluções sábias e urgentes. Em 31 de dezembro de 1914 estava marcada a posse do novo Governador do Estado do Rio. Foi quando surgiu outro grande problema para Wenceslau, e isto ainda por causa do caudilhismo de Pinheiro Machado. Dois partidos políticos exigiam a posse de seu candidato no governo fluminense. De um lado impunha-se a posse de Feliciano Sodré, e deste lado estava o "cacique" gaúcho; do outro lado, queria-se a investidura de Nilo Peçanha. Ambos se consideravam legitimamente eleitos. E agora?! O impasse foi levado para o Catete. Que o Presidente decidisse! Wenceslau, acatando a solução dada pelo Supremo Tribunal Federal a um habeas-corpus, mandou dar posse a Nilo Peçanha, derrubando, mais uma vez, as opções de Pinheiro Machado.

Em muitas outras eventualidades políticas coube a Wenceslau Braz a missão de pacificador, como ocorreu com os dissídios partidários de Alagoas e do Espírito Santo, e no CASO DE MATO GROSSO, em que seu governador, General Caetano de Albuquerque, rompeu com a Assembléia, e esta o quis processar, pelo que o General decidiu reagir, e já se temiam grupos armados que preparavam uma revolução, quando Wenceslau, com a ronha pacificadora, e capacidade persuasiva, conseguiu normalizar toda a situação do Estado.

E o caso mais grave ocorreu com o chamado CONTESTADO, nome que foi dado ao litigioso território entre os estados de Santa Catarina e Paraná, com aproximadamente 46 mil quilômetros quadrados. Era uma pendência interestadual já antiga, que passara por todos Governos anteriores e que já vinha desde o Império sem solução. Havia provas e razões históricas que legitimavam o CONTESTADO como área catarinense; mas também havia outras provas e outros fatos históricos que comprovavam serem essas terras uma legítima possessão paranaense. Wenceslau sabia que basear-se em leis e em tradições para chegar à conclusão do verdadeiro dono daquela área, seria impossível, e o litígio continuaria insolúvel. Ele, então, nomeou uma competente comissão de geógrafos, que lhe apresentou um mapa com a divisão justa e proveitosa para cada estado, fazendo constar as demarcações corretas que se tomariam legais, e decretou que a área de 20.310 quilômetros quadrados passaram a pertencer ao Paraná, e 25.510 a Santa Catarina, pondo fim à questão. E o mais grave ainda aconteceu no mesmo CONTESTADO, para perturbar o Governo de Wenceslau Braz. Dois falsos monges, o João Maria e José Maria (cujos nomes verdadeiros eram Anastas Marcof, francês, e Miguel de Boaventura Lucena), dois espertalhões e desordeiros, conseguiram convencer a milhares de ingênuos trabalhadores, ignorantes e fanáticos roceiros do CONTESTADO, que ali estava sendo criada a "Monarquia Sul-Brasileira", que era um reino independente, desligado da República. O "Frei" João Maria tomou-se, para todos aqueles beócios, um santo milagreiro, um profeta, que era obedecido em tudo, em assaltos violentos, ou saques, em banditismo de toda natureza. Os "frades" João e José Maria criaram uma jagunçaria pior do que a estabelecida por Antônio Conselheiro em Canudos, na Bahia. Para pôr fim à desordem no CONTESTADO, Wenceslau Braz determinou ao General Setebrino de Carvalho uma ação arrasadora na anunciada "Monarquia Sul-Brasileira". Sob o comando desse digno Oficial do Exército, 7.000 militares entraram em fogo contra as hordas da jagunçaria, que também se encontrava armada, havendo muitas mortes de cada lado, inclusive de alguns oficiais do Exército. Custou para Wenceslau muito sangue para restabelecer a paz no CONTESTADO e punir os culpados.

Em 08-10-1917, o Presidente da República Wenceslau Braz, ao desembarcar na estação Ferroviária de Baependi, cidade que o recebeu festivamente.

A REVOLTA DOS SARGENTOS - Conta o General Abílio de Noronha: "Uma sublevação vinha sendo preparada na Capital Federal (então Rio de Janeiro) entre diversos políticos, fatores intelectuais e principais responsáveis e sargentos do Exército, Brigada Policial e Corpo de Bombeiros para ser levada a efeito à meia-noite de 24 de dezembro de 1915, não sendo estranhos ao movimento os inferiores da Armada, as classes de operários e estivadores, e o pessoal da Light, cuja cooperação tinha sido prometida e previamente aceita" Como desconfiassem de que as autoridades governamentais já estavam percebendo algum movimento estranho e secreto nas normalidades de trabalhos, os sediciosos decidiram antecipar a eclosão do levante, passando-a para a meia-noite de 18 de dezembro, em vez de 24. Esse monstruoso episódio contra Wenceslau Braz ficou na História como uma "revolta dos sargentos", mas, na realidade, não passaram eles de testas-de-ferro de políticos que planejavam uma "República Parlamentar". Esses políticos, conforme ficou provado, eram os deputados Maurício de Lacerda (que deveria ser aclamado o Presidente da República Parlamentar). Vicente Piragibe, Pedro Moacyr, Rafael Cabeda, Dr. Agripino Nazaré, Georgino Avelino, Caio Monteiro de Barros, Campos de Medeiros, Maurício de Medeiros e o Coronel reformado do Exército, também deputado, Barbosa Lima. Os locais de encontro dos conspiradores eram feitos em vários pontos da cidade, em Jacarepaguá, em Botafogo, embarcas da Companhia Cantareira, na redação de "A Época", na estação de Madureira e até nos próprios quartéis, e mesmo fora da Capital, em Vassouras, RJ, na residência do Dr. Sebastião de Lacerda, Ministro do Supremo Tribunal, pai do deputado Maurício. As reuniões eram quase sempre presididas pelo Dr. Maurício de Lacerda ou Agripino Nazaré. Diz o General Abílio de Noronha: "O inquérito procedido revelou o plano do assassínio de generais e igual destino deveriam ter todos ministros e o próprio Presidente da República. À cavalaria da Brigada policial, sob o comando do Major Paulo de Oliveira (conhecido mazorqueiro) estava reservada a missão de realizar a prisão do Presidente da República logo ao iniciar a revolta". Diz o mesmo autor: "Ao 56° Batalhão de Caçadores estava reservada a missão de marchar sobre o Catete e aprisionar o Presidente da República; o 52° Batalhão de Caçadores iria com o Deputado Maurício de Lacerda (irmão de Carlos Lacerda) ao Quartel General, cuja guarda estava preparada para recebê-lo; nesse local seria o mesmo deputado aclamado Presidente da República Parlamentar até a chegada do General Dantas Barreto; em seguida o Dr. Wenceslau Braz seria obrigado a telegrafar aos governadores e presidentes dos estados, comunicando que fora deposto pelas forças militares e pelo povo com a proclamação da República Parlamentar". "Caso, porém, houvesse resistência no antigo Arsenal de Guerra, seria esse vencido com o auxílio de outras tropas e pelo bombardeio das fortalezas". Todos esses nefastos planos chegaram ao conhecimento dos nobres Oficiais do Exército e da Marinha. A insurreição malogrou sem dificuldade, e Wenceslau Braz, que ia sendo vítima de agitadores vulgares, de assassinos e de políticos oportunistas, não se abalou do Palácio das Águias, como assim era apelidado o Catete... Outros acontecimentos mais, de consequências desastrosas para o País, que muito perturbaram o Governo de Wenceslau Braz, continuaram a suceder-se. Em 03-04-1917, na costa francesa, a Alemanha iniciou a provocação ao Brasil, afundando, com seus submarinos, o nosso navio "Paraná". Outros navios mercantes brasileiros foram covardemente torpedeados pela esquadra germânica, o "Tijuca" (20-05), o "Lapa" (22-05), o "Macau" (25-06), o "Acari" e o "Guaíba". Em represália, em 11-04-1917 o Presidente mandou ocupar todos os navios alemães ancorados nos portos do Brasil. Em 26-10-1927, finalmente Wenceslau Braz assinou a declaração de guerra à Alemanha, é enviou para a França, nossa aliada, uma numerosa equipe médica, e pôs uma flotilha de seis navios para patrulhar o Atlântico, e militares, inclusive aviadores, que se incorporaram ao exército francês. O Brasil gastou muito com a primeira Conflagração européia.

Um velho ditado popular diz que uma desgraça nunca vem só. No final do Governo Wenceslau Braz começaram a aparecer os primeiros sintomas da "influenza", a epidemia que atingiu o mundo todo. Era a terrível "gripe espanhola", que ceifou milhares de vidas em nosso País. Nesta última e dolorosa etapa, Wenceslau teve a ajuda valiosa de sua esposa, D. Maria Carneiro, nossa conterrânea, que, não temendo contágio, ela própria, com algumas auxiliares, acudia os mais necessitados do Rio de Janeiro, proporcionando-lhes remédios e assistência.

Pois foi esse o período Wenceslau Braz já nonagenário (Bico-depena do autor desta súmula biográfica. O preclaro estadista chegou a conhecer este desenho) governamental, transformado e corrompido pelos agitadores do mal e da mazorca, e pela precariedade econômica do País, e de até ameaças contra a própria vida, que Wenceslau Braz soube enfrentar com serenidade, prudência e capacidade administrativa de modo a merecer os mais justos louvores, os mais entusiásticos aplausos dos que amam a justiça, a ordem, a paz e a dignidade. E sem se intimidar com a violência, sem dar ouvidos a críticas malévolas e à incompreensão de zombeteiros, e mesmo sem se perturbar com a gravidade de certos acontecimentos que tumultuaram o Brasil e o mundo, prestou à Pátria serviços inadiáveis. Que sejam rapidamente citados apenas dois desses feitos urgentes: Até então nosso País não possuía seu Código Civil. Nosso Judiciário guiava-se pelas leis portuguesas. Ainda valiam as arcaicas "Ordenações Filipinas". Wenceslau exigiu a legislação própria, pôs juristas para elaborar uma obra nacional e definitiva. com o Decreto de n° 3.071, de 1° de janeiro de 1917, aprovou Código Civil Brasileiro. Wenceslau não mais quis ver soldados mercenários no, quartéis, nem voluntários que apenas se prestavam para desfiles festivos em comemorações cívicas. Exigiu o cumprimento do serviço militar obrigatório, implantando a Reserva do Exército, até hoje em prática.

Foi o primeiro Presidente da República que voou. É afirmação de "A Noite Ilustrada" de 02-11-1948, e não Getúlio Vargas, conforme muita gente pensa - assim observa a referida folha. E o fez num hidravião da Marinha, pilotado pelo comandante Short, depois Almirante.

Wenceslau Braz recebeu inúmeras condecorações e incontáveis homenagens. "Wenceslau Braz" é o nome de várias escolas tanto de nível primário, secundário, de ensino médio e superior, bem como de clubes e outras instituições. É o topônimo de três cidades ("Wenceslau Braz" em MG; "Venceslau Braz", no PR, e "Presidente Wenceslau", em SP). "Wenceslau Braz" é o nome de um super petroleiro lançado ao mar em Tóquio, Japão, em 03-07-1959.

Construiu sua residência em Itajubá em 1909 e 1910, durante o tempo, em que residia em Belo Horizonte, no exercício de Governador de Minas Gerais.

Fonte: Historiador Itajubense José Armelim Bernardo Guimarões.


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