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HISTÓRIA CLUBE ITAJUBENSE
CAPÍTULO 04

A história relatada nestes textos foram tira da do livro "Conversa Centenária - A História dos 100 anos do Clube Itajubénse - De: Fernando Antônio Xavier Brandão". Por ser muito extenso, foram divididos em capítulos separados e para facilitar ao leitor em sua pesquisa e leitura.

Segue abaixo os índices dos capítulos e para acessa-los basta clicar num dos links.

INDICE

CAPÍTULO 01  - Dos sonhos à realidade .............................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 02  - Consolidação I e II....................................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 03 - A primeira das instalações...........................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 04 - Adm. do clube em seus primeiros 50 anos ......CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 05 - Pausa histórica na madrugada 10/jul/1947......CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 06 - Adm. do clube nos últimos 50 anos................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 07 - Pontos altos da história do clube..................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 08 - Entre eventos, teceram-se acordos..............CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 09 - Os carnavais do Clube Itajubense.................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 10 - Os bailes de debutantes.............................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 11 - Sede campestre........................................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 12 - Fatos curiosos..........................................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 13 - Apoio inestimável......................................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 14 - Festividades e planos futuros......................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 15 - Aplausos finais..........................................CLIQUE AQUI

CAPÍTULO 04


Diretoria de Clube em 1927, em pose histórica, após a inauguração da Grande Reforma.


ADMINISTRAÇÃO DO CLUBE EM SEUS PRIMEIROS 50 ANOS

As grandes idéias referentes ao progresso desta terra e ultimamente realizadas, tiveram sua origem dentro do Club, em conversações informativas em boa hora. Saliento, entre esses melhoramentos, o Collegio de Itajubá, a Luz Elétrica, o asseio e o embelezamento quase que geral da cidade.

Frederico Teixeira de Magalhães Leite, em 23 de junho de 1907

As detalhadas atas dos primórdios administrativos contam uma história rica e constante de movimentação de sócios, alternando-se entre as categorias de contribuintes efetivos e de correspondentes, testemunhos do eterno vai-e-vem, quando os moços deixavam a cidade, em busca de melhores empregos, nos grandes centros, ou quando voltavam ao torrão natal, ao vislumbre da primeira oportunidade.

A História Administrativa do Clube é a história da própria mocidade heróica de Itajubá, com seus desafios e suas conquistas, suas esperanças e suas ilusões, em um caleidoscópio fulgurante, onde se alinham inumeráveis exemplos de extremas dedicações e de duros esforços, para a conquista de algumas horas de lazer e divertimento."

F. Brandão

A Administração do Clube, em seus primeiros 50 anos de vida, revela-nos extraordinárias Diretorias. Eram tempos, em que fios de barba selavam empréstimos, quando a palavra pessoal era mais importante que qualquer garantia material. Eram tempos, em que a criatividade substituía o banqueiro inexistente, o dinheiro arranjado entre os próprios companheiros, sob forma de títulos de dívida. Que eram sorteados, para resgate de alguns poucos possíveis, em finais de mandatos. Tempos de Secretários, que se esmeravam com caligrafias elegantes, em registros cuidadosos, mais assemelhados a páginas literárias. Tempos de homens destemidos e de personalidades fortes, oradores orgulhosos, sempre desejando o melhor, sempre visando o progresso e o futuro.

Apesar da união e entusiasmo dos sócios, no início da sua história, a agremiação lutou com muitos problemas financeiros. É um desfilar constante de alternâncias de sócios, nas diversas categorias, baixa de sócios, inadimplências com as mensalidades, Revisões de Estatutos, planos e reformas do edifício-sede e anos e anos de sacrifícios, até a quitação total das dívidas contraídas. Para repetir-se, logo depois, o mesmo ciclo e as buscas das mesmas alternativas de sobrevivência.

Voltemos nossa atenção aos primeiros anos da história do clube.

Colaborando com seus consócios, em 16 de julho de 1901, o Presidente Dr. Luiz Rennó propôs reduzir o aluguel mensal do prédio de sua propriedade, onde funcionava o clube. O novo aluguel de R$ 85 mil réis foi um alívio para a tesouraria.

Se por um lado, o Dr. Luiz Rennó cedia tudo ao seu alcance, em prol do Clube, por outro, era muito intransigente, em termos administrativos, principalmente, quando se tratava de finanças e do orgulho que tinha com a agremiação, que ajudara a criar. Certa vez, na Assembléia Geral de 5 de janeiro de 1903, um sócio levantou-se contra o valor de 50 mil réis, aprovados, para a jóia de admissão de novos sócios. O sócio em questão, demonstrando sovinice, argumentou que 30 mil réis estariam suficientes, considerando as dificuldades, em um passado recente, para serem conseguidos sócios novos para o Clube. Ficou famosa a sentença do Dr. Luiz Rennó:

"Quando o Clube Litterario e Recreativo Itajubense procurava sócios e não os encontrava, era porque não tinha uma sociedade como a que atualmente existe. Por isso, quando a elite itajubense, que forma um coração de ciência circundado por uma auréola de engrandecedores, está envolvida neste grande centro, é de inteira justiça que os novos sócios paguem a jóia de cinqüenta mil réis e, assim, comprovem ser merecedores de gozar da regalia de virem pertencer ao nosso Quadro Social".

O aniversário de 15 de junho de 1899, segundo ano de vida da associação, foi comemorado com muito garbo e alegria. Contou com um sarau de artistas amadores e a presença de familiares dos sócios. Não há registro de comemorações do Primeiro Aniversário.

Há algumas curiosidades no relacionamento do Clube com o universo ambiental externo, nos primeiros 50 anos de Administração. Não há um só registro sobre o novo século XX, sobre a fundação do Instituto Eletrotechnico e Mecanico, sobre o sócio Dr. Wenceslau Braz Pereira Gomes na Presidência do Estado de Minas Gerais e depois na Presidência da República do Brasil, sobre a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, sobre a Gripe Espanhola, sobre as crises políticas que abalaram o País, a exemplo das Revoluções de 1924, 30 e 32, Estado Novo e Golpe de 1945.

Nada!

Mas, o mais incomum diz respeito à passagem do século. Ao final do Século XIX e diante das esperanças do Século XX, seria natural que o Clube, agremiação de cultura e lazer, registrasse alguma mensagem para a posteridade. Não há nenhuma palavra a respeito! Inexplicável omissão, principalmente, quando relacionada a Diretorias sensíveis, com Secretários tão cuidadosos! A Diretoria do Clube, sob a Presidência do Dr. Miguel Archanjo Vianna, chegou ao ponto de realizar reuniões normais, em 30 de dezembro de 1899 e em 1º de janeiro de 1900. Nesta última, foi realizada Assembléia, na qual foi eleita a quarta Diretoria, tendo como Presidente o Sr. Abel Pereira dos Santos. Entre os planos do novo Presidente estavam a compra de um piano e melhorias da Biblioteca.

Nem uma menção a 1900 e nem votos de um Feliz Século Novo!

Em 22 de julho de 1900, ocorreu a primeira crise interna administrativa. Em reunião presidida pelo Vice-Presidente Tristão Affonso de Azevedo e secretariada por Júlio Amaral, foi lido um oficio do Presidente Abel Pereira dos Santos, pedindo exoneração "allegando que o motivo é bem conhecido da Directoria".

Convocou-se uma Assembléia Geral, para eleição de novo Presidente e preenchimento de dois outros cargos vagos na Diretoria.

Logo no início da Assembléia Geral, uma semana depois, em 29 de julho de 1900, o sócio José Manso Pereira Cabral, homem de grande destaque em Itajubá e no Clube, relatou incidente ocorrido no Salão de Bilhares, origem do pedido de exoneração do Presidente. Naquele dia, o Presidente Abel Pereira dos Santos, ao usar de atitude corretiva com os faltosos, acabara por incluí-lo, José Manso Pereira Cabral, que se sentiu melindrosamente atingido, e que por isso, também, pedira demissão. Como o Presidente o havia procurado e apresentara explicações pessoais, achara por bem voltar ao convívio dos amigos.

Em plena Assembléia, o Presidente Abel Pereira dos Santos reforçou a declaração de José Manso Pereira Cabral.

Um maravilhoso exemplo de honradez e de grandeza de espírito!

Procedeu-se a eleição, conforme edital. Feita a apuração, para surpresa das surpresas, o Sr. Abel Pereira dos Santos foi reconduzido ao cargo de Presidente.

Mas, as regras dos Estatutos eram sagradas. E deveriam ser cumpridas. Foi marcada outra Assembléia para a posse do Presidente reconduzido. Abel Pereira dos Santos tomou posse de novo, em 1º de agosto de 1900. Acabara a primeira crise de Diretoria do Clube, que durara uma semana!

Não demorou para ser necessária a revisão dos Estatutos de 1897. A Assembléia Geral de 23, 24 e 25 de dezembro de 1906, aprovou e transcreveu em livro de atas os Novos Estatutos, com um total de 56 artigos.

A Administração do Clube entrava no Século XX!

Mas, as dificuldades financeiras continuavam. Uma das saídas era reduzir os custos fixos. E o aluguel do prédio da sede Social era justamente um deles. Em 1º de agosto de 1904, os sócios Francisco Vianna e Silverio Sanches foram encarregados pelo Presidente Henrique de Souza de negociar com o Dr. Luiz Rennó, proprietário do prédio da Sede do Clube, a redução do aluguel de 85 mil réis mensais, face às dificuldades financeiras vigentes.

Na reunião seguinte, em 1º de setembro de 1904, o sócio Silverio Sanches comunica o êxito de sua missão "(..) conforme havia sido encarregado, se entendeu com o excelentíssimo senhor Dr. Luiz Rennó sobre a diminuição do aluguel do prédio e este declarou que não punha duvida alguma, sujeitando-se à deliberação da Directoria e propoz que ficassem estipulados os seguintes preços, de 1º de setembro em diante: 60 mil réis para o aluguel da casa; 40 mil réis mensais ao empregado e 40 mil réis também mensais do fornecimento do café".

O Dr. Luiz Rennó, naquele momento, não era somente o locador do prédio. Era, também, o responsável pelo único empregado - o Bibliotecário Servente, e até pelo cafezinho...

As Diretorias do início do século sempre consideraram o 15 de junho (Inauguração da Primeira Sede Social e Posse da Primeira Diretoria, em 1897) como sendo a data de aniversário do Clube. Assim sendo, aproximando-se o décimo aniversário do Clube, a Diretoria liderada pelo Presidente Abel Pereira dos Santos, em reunião de 3 de junho de 1907, resolveu comemorar com toda a pompa aquela relevante efeméride, desde que fosse feita uma subscrição entre os sócios, "concorrendo cada um com a importância na altura de suas forças", pois a Tesouraria não tinha recursos.

Mas, a festa só se realizaria no dia 23 de junho de 1907, em virtude do falecimento do sócio Joaquim Ramos de Lima. O orador oficial do Clube, Augusto Cabral, nas comemorações, depois de enaltecer a figura do falecido, destacou o que o Clube representava para a cidade de Itajubá. " ... benefícios esses sempre crescentes e fecundos dos quais a Sociedade Itajubense tinha auferido grandes proveitos, e assim solicitava a boa cooperação de todos os sócios para a conservação e manutenção da sociedade e agradecia o concurso das Excelentíssimas Famílias que com suas presenças vieram abrilhantar a festa, pedindo também que d'oravante encaminhassem se os filhos a serem os futuros benfeitores do Club."

Falou, ainda, o sócio Frederico Teixeira de Magalhães Leite, que enfatizou ".... que as grandes idéias referentes ao progresso desta terra e ultimamente realizadas, tiveram sua origem dentro do Club, em conversações informativas em boa hora e salientou, entre esses melhoramentos, o Collegio de Itajubá, a Luz Elétrica, o asseio e o embelezamento quase que geral da cidade..."

Uma interessante e econômica medida foi formalizada na reunião de 4 de janeiro de 1911. Era mantida a permissão da franquia do Salão de Festas, à noite, aos sócios, que quisessem trazer suas famílias "para diversões dançantes e musicais, correndo por conta desses sócios quaisquer despesas que os mesmos viessem fazer."

Em 31 de maio de 1912, ocorre curiosa reclamação junto à Diretoria. O responsável pelo patrimônio da Paróquia de Nossa Senhora da Soledade (fabriqueiro) "convidou a Diretoria do Clube para entrar em acordo com a Paróquia, sobre a compra do terreno, sobre o qual estava construído o prédio do clube".

A resposta do Presidente Miguel Archanjo de Souza Vianna foi enfática:

- "Entender-se com o Dr. Luiz Rennó, a quem compete tomar conhecimento por ser ainda o proprietário do prédio ".

Em 26 de dezembro de 1913, considerando os relevantes serviços prestados pelo Dr. Wenceslau Braz Pereira Gomes, bem como "pelo valioso prestígio de sua solidariedade, contribuindo sempre em primeiro plano para o engrandecimento e prosperidade do Club" a Diretoria autorizou o Presidente a incluir em seu Relatório Anual, uma proposta para agraciar aquele sócio fundador "com os títulos de sócio benemérito e remido, nos termos dos Estatutos".

Na noite de 4 de janeiro de 1914, quando da posse da nova Diretoria, sob a Presidência do Dr. Theodomiro Carneiro Santiago, o Dr. Wenceslau passou a Presidência da Assembléia para o Secretário Fructuoso Ramos de Lima, para que fosse votada a proposta de elegê-lo Sócio Benemérito e Remido, a qual foi aprovada por unanimidade. O Dr. Wenceslau Braz, reassumindo a Presidência da Assembléia, proferiu um brilhante discurso:

"(...) em que agradeceu a honrosa distinção que acabara de receber, que muito o penhorava, enalteceu os importantes serviços que esta associação vem, desde muito, prestando ao nosso meio social, tendo concorrido immensamente para a manutenção da paz e harmonia que desfrutamos em nossa querida terra, e que causa inveja a outros povos e lhes serve de norma e exemplo, como se deprheende das opiniões espontaneamente externadas por todos que aqui vêm e nos observam,- disse mais que timbrará sempre em prestar à sociedade o apoio que puder, augmentando os poucos serviços que até aqui lhe tem dedicado com o máximo interesse para que jamais deixe ella de progredir e continuar a ser, como é o centro de convergência, ordem e harmonia da nossa sociedade."

Os empréstimos para obras do Clube eram, na maioria das vezes, tomados entre os próprios associados, emitindo-se Títulos da Dívida, que rendiam ao credor juros de 6 a 10% ao ano. Em uma economia estável, como a do princípio do século, esses juros representavam um rendimento equivalente às poupanças bancárias. O resgate desses títulos eram feitos, após sorteio dos poucos possíveis, que o saldo do caixa anual do Clube permitia pagar. Esse interessante método de ressarcimento está, magistralmente, descrito pelo Secretário Anterior Vianna Braga, na ata da Assembléia de 27 de dezembro de 1914, sob a Presidência do Dr. Miguel Archanjo de Souza Vianna, quando foi eleito Frederico Teixeira Leite, para Presidente de 1915:

"Em seguida o Presidente declarou que ia proceder o sorteio de 30 títulos do compromisso assumido por este Club, uma vez que se havia verificado o saldo líquido de 3036$730 réis, para o que convidou dois pequenos para tirarem os respectivos bilhetes, sendo que de um lado se achavam 200 bilhetes devidamente enrolados e numerados de 1 a 200 e de outro 170 em branco e 30 nos quais havia sido escrita a palavra "sorteado ". Convidou para fiscais do sorteio os Srs. Commendador Frederico Schumann e Braulio Carneiro Santiago, que verificavam o resultado do sorteio, depois de proclamado pelo Presidente; cujos números sorteados não são aqui mencionados por constarem dos livros da escripturação do CIub."

O Presidente de 1915, Frederico Teixeira de Magalhães Leite, destinou o saldo de 3 contos e quinhentos e cinqüenta e três mil réis para amortização do empréstimo para a reforma do prédio, empréstimo esse autorizado em 30 de janeiro de 1912.

Em 13 de janeiro de 1916, durante a primeira reunião da Diretoria presidida por Dr. Manoel Cintra Barbosa Lima, foi decidida a organização do livro "Registro dos Sócios do Club Litterario e Recreativo Itajubense". Como não há nenhum registro de decisão similar, anterior, acreditamos ter sido essa a primeira vez que se cogitou de listar, em livro, os sócios do Clube. Depois de 18 anos e meio decorridos da fundação!...

Em 25 de março 1916, o Presidente Dr. Manoel Cintra Barbosa Lima solicitou um inventário dos móveis do clube. Nomeou a comissão composta de Francisco Rosa e José Minervino de Salles para fazê-lo. A comissão apresentou o inventário, na sessão de 15 de abril de 1916.

O Dr. Barbosa Lima estava colocando ordem na casa. A exemplo da Lista de Sócios, a Relação de Móveis, parte importante do Patrimônio, era controlada pela primeira vez, em 18 anos e meio!...

Em 15 de março de 1917, na gestão do Presidente Antonio Pereira Rennó, foi aprovada a isenção de mensalidades, durante o ano de 1917, para o Maestro Luiz Ramos de Lima, por serviços relevantes. A arte sempre foi bem reconhecida, em Itajubá!

Nessa reunião, foi, também, aprovada a promoção dos festejos carnavalescos, com a dotação de verba de 200 mil réis. É a primeira referência existente em Ata sobre realização de festejos carnavalescos pelo Clube. A entidade já estava por completar 20 anos de existência!

Em 2 de janeiro de 1918, durante Assembléia Geral, o Presidente Antônio Pereira Rennó fez o sorteio de 23 títulos da dívida do Clube e passou um saldo de caixa, para obras de reparo do prédio. Nesse ponto, é de observar o cuidado com o patrimônio. O prédio da Sede Social era mais importante que a liquidação da dívida ativa e dos pagamentos de juros devidos.

Exatamente um ano depois, em 2 de janeiro de 1919, procedeu-se ao sorteio de 45 Títulos da Dívida e são pagos os juros vencidos de todos os títulos existentes, em número de 80. O incansável Presidente Antônio Pereira Rennó, ainda, conseguiu passar "uma sobra" para a nova gestão. São eleitos para 1919, entre outros, o Presidente Dr. João Sebastião Ribeiro de Azevedo, 1º Secretário José Joaquim Fernandes e o Tesoureiro Maurício Pereira dos Santos.

Em 11 de janeiro de 1919, é realizada uma Sessão Especial para posse do Dr. João de Azevedo como Presidente, que não havia assumido, no dia da Assembléia Geral, em virtude de luto pela morte do sogro, o consócio Sr. José Francisco de Faria Júnlor.

Em 10 de junho de 1919, é realizada eleição de novos Presidente e Tesoureiro, devido a renúncias. São eleitos, respectivamente, o Dr. Miguel Archanjo de Souza Vianna e o senhor José Verano da Silva.

Em 25 de junho de 1919, durante a presidência do Dr. Miguel Vianna, o tesoureiro interino Sr. José Joaquim Fernandes comunica um saldo de 475 mil réis, depositado em caderneta do Banco da Companhia Sul Mineira, futuro Banco de Itajubá. Registros como esse explicam porque o Clube é uma das maiores testemunhas da História de Itajubá!

Em 1º de janeiro de 1920, é realizada mais uma eleição de Diretoria. Antes do preito, o Presidente Dr. Miguel Archanjo Vianna fez o sorteio de 14 Títulos da Dívida do Clube.

Procedida a apuração dos votos, surge a Diretoria para 1920, com o Presidente Dr. José Braz Pereira Gomes, 1º Secretário José Maria Afflalo e Tesoureiro Severiano Ribeiro Cardoso, entre outros.

Ao saudar o Dr. José Braz Pereira Gomes, em sua posse, o Dr. Miguel Archanjo de Souza Vianna, afirmou:

"... Estou certo que um novo surto de vida intensa abrir-se-á para a nossa sociedade, importantes melhoramentos haverão de ser introduzidos no nosso Grêmio Littterario, devido à sua energia e à saúde juvenil actividade."

Em 20 de janeiro de 1920, na primeira reunião do Presidente Dr. José Braz Pereira Gomes, é admitido como sócio o Dr. Fritz Hoffmann, emérito Professor da Escola de Engenharia. Nessa reunião, o Presidente "(...) lembrou a grande necessidade de se reformar e ampliar o edifício do Clube, afim de oferecer maior conforto aos sócios e a suas Exmas. Famílias, tendo mesmo solicitado ao Dr. Fritz Hoffmann a organização de uma planta, que é a que vai submeter à apreciação da Diretoria, propondo para que esta convoque uma Assembléia Geral, para o dia 26 de janeiro próximo, afim de discutir tão importante assunto."

Considerando o ótimo trabalho do Dr. Fritz Hoffinann, projetando as obras da reforma do prédio, a Diretoria resolveu isentá-lo da jóia de admissão.

Em 22 de julho de 1920, sob Presidência do Dr. José Braz, foram apresentados e aprovados os novos Estatutos, que estão transcritos no livro 5, às páginas 33 verso até 41. A Comissão da Revisão dos Estatutos, constituída pelos associados Dr. Antonio Salomon, Dr. Miguel Archanjo de Souza Vianna, Balduino Salgado, Carmo Cascardo, e pelo próprio Presidente Dr. José Braz Pereira Gomes, fez um magnífico trabalho.

Na Assembléia de 30 de dezembro de 1920, o consócio Dr. Jorge de Oliveira Braga propôs, e foi aprovada por unanimidade, a reeleição da Diretoria existente, para 1921. O Secretário José Maria Afflalo, sempre com um texto impecável, registrou a alegria dos associados com essa decisão, ao reconduzirem uma Diretoria, que tinha à frente um jovem e dinâmico Presidente, Dr. José Braz Pereira Gomes, muito querido na cidade. Na Assembléia da Posse, em 2 de janeiro de 1921, o Secretário Aureliano Schumann registrou para a posteridade este trecho do discurso do Dr. José Carlos da Costa e Silva, membro da Comissão do Relatório, "congratulava-se com a illustre Directoria do Club, pelos inestimáveis e grandiosos serviços prestados a esta sociedade, durante o ano de 1920, promovendo uma renda admirável e dotando o prédio de todo o conforto, transformando-o totalmente."

A reforma do Dr. Fritz Hoffmann agradara plenamente! A partir de agora, todo esforço era para pagar a conta!

Na primeira reunião da Diretoria reeleita, no dia 24 de janeiro de 1921, o tesoureiro apresentou um saldo do balancete de 1920 de 11 contos e 879 mil réis. O Presidente Dr. José Braz Pereira Gomes orientou que o mesmo fosse passado para a conta da construção do edifício do clube, decisão aprovada por unanimidade.

Em 12 de abril de 1921, a Diretoria adquiriu a obra "Bibliotheca e Diccionario Internacional", em prestações de 35 mil réis, enriquecendo o acervo da Biblioteca. Nessa mesma reunião, o Presidente foi autorizado a comprar um quadro a óleo do pintor e consócio Luiz Teixeira, por 250 mil réis.

Durante o tempo de expediente, o Presidente comunicou ter cedido o salão nobre do clube à Câmara Municipal de Itajubá que, tendo à frente seu Presidente e Agente Executivo Municipal Dr. Jorge de Oliveira Braga, havia oferecido almoço ao Dr. Carlos Sampaio, ilustre Prefeito do Rio de Janeiro, na época, Distrito Federal.

O Dr. Fritz Hoffmann, professor do Instituto Eletrotechnico e Mecanico de Itajubá, havia feito a desmontagem do Morro de São Benedito, usando jatos d'água, retirada com bombas do Ribeirão José Pereira. A lama formada no desmonte aterrou a baixada onde, hoje, é a Praça Dr. José Braz (Rodoviária) e parte da Praça Pereira dos Santos (Bairro do Morro Chic). O Prefeito do Rio, Sr. Carlos Sampaio, achava-se às voltas com o problema de escolher um local para a Exposição Comemorativa do Centenário da Independência, em 1922. Sabendo que, em Itajubá, fora realizada a remoção de grande volume de terra com jatos d'água, o Prefeito do Rio veio a Itajubá, para conhecer a técnica. De volta ao Rio, iniciou o desmonte do Morro do Castelo, pelo mesmo processo, conseguindo afinal uma área, no centro da cidade, para instalar a Exposição. A Ata da Reunião da Diretoria de 12 de abril de 1921, presidida pelo Dr. José Braz Pereira Gomes, confirma a visita do Prefeito Sr. Carlos Sampaio.

Em 28/06/1921, o Presidente Dr. José Braz pediu licença do exercício da Presidência para assumir, em Belo Horizonte, os trabalhos legislativos do Congresso Mineiro. O Presidente passou seu cargo ao seu substituto legal, o Vice-Presidente Thiago Carneiro Santiago.

As eleições de novas Diretorias tinham sempre um caráter de muito formalismo, com voto secreto e muita cerimônia no escrutínio e na oficialização dos ganhadores. Claro está que havia uma certa combinação antes, do que as Atas não falam, para que as chapas fossem formadas. Normalmente, uma chapa única, a julgar pela maioria absoluta de votos carreada pelos candidatos eleitos. Na Assembléia de 31 de dezembro de 1921, sob a Presidência do Dr. José Braz, houve uma inovação. A eleição para 1922 foi por aclamação de chapa apresentada pelo Dr. Jorge de Oliveira Braga. Entre outros, foram eleitos o Presidente Major João Antônio Pereira, Primeiro Secretário Aureliano Schumann e Tesoureiro Joaquim Rodrigues Pinto. Nessa Assembléia, o Presidente que saía, Dr. José Braz, sorteou 160 Títulos da Dívida, em um total de 16 contos de réis de pagamentos. Mas, a dívida, contraída com a reforma de 1920, nem assim, foi quitada.

O Clube estava para fazer 25 anos de fundação. Um quarto de século! Lembremos que a data que se comemorava era o 15 de junho, aniversário da posse da primeira Diretoria. Na reunião de 9 de junho de 1922, uma semana antes, estando na Presidência o Major João Antonio Pereira, seu Secretário aureliano Schumann registrou a decisão de se comemorar o 25º Aniversário com esta pérola de síntese:

"A Directoria deliberou q e se festejasse o 25º anniversário do Club, no dia 15 de junho do corrente anno."

Mais economia de palavras seria impossível!...

No dia do aniversário, 15 de junho de 1922, foi realizada uma Sessão Extraordinária pelos 25 anos do Clube. Compareceu um grande número de sócios com suas famílias. O Orador Oficial, Dr. Orestes Esteves, falou sobre a grande data, historiando a sociedade, desde aqueles idos de 1897. Não houve ninguém que quisesse usar da palavra livre. A festa ficou nisso! Assinaram o Termo da Sessão Extraordinária, que foi lavrado, um total de 44 cavalheiros. Nem uma assinatura de senhora ou senhorita! Tempos de sujeição total da mulher, que ainda não se libertara, ao ponto de não ter a ousadia sequer de uma mísera assinatura, em um livro de presenças! Perderam elas! Perdeu a História!

O Club Litterario e Recreativo Itajubense, além do seu salão de bilhar e salões de jogos de cartas, para o lazer do dia a dia dos sócios, era muito utilizado para a leitura de jornais e, naturalmente, para jogar conversa fora, na "happy hour", depois do jantar, ocasião em que grandes decisões sobre política municipal e sobre os negócios, em geral, eram tomadas. No primeiro quartel do século, uma das riquezas de Itajubá era o fumo. Plantava-se, comprava-se, estocava-se, exportava-se tabaco, que proporcionava rápidos enriquecimentos para uns e falências irrecuperáveis para outros, em horas de crises e de retração do mercado. Na reunião de 9 de outubro de 1922, sessão ordinária sob Presidência do Major João Antônio Pereira, foi lido um ofício do Sr. Oliveira Castro, do qual destacamos o seguinte trecho:

"(...) envio ao clube um caixote de livros, que encerram conhecimentos completos sobre tudo que se tem feito no estrangeiro em cultura de fumo".

O Presidente ordenou que "o Secretario oficiasse, agradecendo a offerta". Não sabemos se o Secretário Aureliano Schumann, com seu estilo de poucas palavras escreveu algo parecido com "Recebemos e agradecemos". Seria bem possível! Bem próprio do Secretário!

A moda de "eleição por aclamação" parece que chegara para ficar. Em 3 de janeiro de 1923, foi eleita por aclamação a Diretoria comandada pelo Presidente Balduino Vieira Salgado e Secretário Dr. Carlos Ribeiro Filho. O Presidente que saía, Major João Antonio Pereira, fez o sorteio de 130 títulos da dívida, quitando 13 contos de réis da Dívida da Reforma de 1920.

Na primeira reunião do Presidente Balduino Vieira Salgado, em 14 de janeiro de 1923, foram decididos o arrendamento do Bar, a compra de novos bilhares e a execução de pequenos consertos, no prédio da Sede Social. Mas, quinze dias depois, só havia aparecido um interessado para arrendar o Bar. O Secretário Dr. Carlos Rennó Ribeiro transformou os registros a respeito em textos de mistério, dignos de uma Agatha Christie - só mistério, melhor ainda, só mistério insondável! Na ata de 30 de janeiro de 1923, não registra o nome do interessado pelo arrendamento do Bar. A decisão foi a de enviar uma contraproposta ao interessado, sem nenhum registro dos valores. Quanto aos bilhares, decidiram fazer nova pesquisa de preços em São Paulo e caberia ao Presidente decidir a compra, sem maiores detalhes. Para acabar com o mistério, o Dr. Carlos Ribeiro Filho registra este "esclarecimento", na ata de 2 de março de 1923:

"Sobre o arrendamento do Bar do Club, o arrendatário declarou, verbalmente, acceitar, sem prazo determinado, dentro do ano de 1923, as condições da contra proposta em seu poder".

E mais nada! Falou e disse, mineiramente!

Mas, os costumes eram muito arraigados. No Vale do Sapucaí, então, nem se fala! Na Assembléia Geral Ordinária, de 3 de janeiro de 1924, a eleição da Diretoria para 1924 foi feita por votação secreta. Os sócios estavam saudosos de uma boa eleição, com cédulas secretas, urna e apuração com fiscais. Foram eleitos o Presidente José Maria Afflalo, o Secretário Júlio Amaral e o Tesoureiro Silvério Sanches, entre outros.

Em 1924, sob a Presidência de José Maria Afflalo, o Club Litterario e Recreativo Itajubense, começa a se tornar mais solto, mais participativo em outros acontecimentos sociais, na cidade que se expandia. Assim, em 18 de março de 1924, o Secretário Júlio Amaral registra uma participação do Presidente, em acontecimento social de grande brilho, uma festa para o Coronel Comandante do 4º BE. O Secretário faz o registro sob forma de comunicação:

"(...) o Presidente José Maria Afflalo communicou que, de acordo com a auctorização da Directoria do Club, tomo parte na festa realizada, no dia 18 de fevereiro, em homenagem ao Sr. Cel. Gustavo Lebon Regis, digno Comandante do 4º Batalhão de Engenharia, aqui aquartelado, cuja festa transcorreu na melhor ordem e alegria."

Nesse registro do eficiente Júlio Amaral, devemos observar o detalhe " ...de acordo com a auctorização da Directoria do Club". Quer dizer, Presidente naqueles tempos, para ir a uma festa, representando o Clube, pedia licença à Diretoria! Tempos de muita formalidade!

A Assembléia Geral de Posse da Diretoria para 1926 foi, mais uma vez, presidida pelo Dr. Wenceslau Braz Pereira Gomes. Com muito orgulho e alegria, pois assistia à recondução de seu filho, Dr. José Braz Pereira Gomes, à Presidência do Clube. Foi à noite de 6 de janeiro de 1926 e o Secretário Olavo Bilac de Magalhães registrou estas palavras do velho chefe político, ao final da cerimônia:

"... termino fazendo votos, para que a nova Directoria, cujo mandato ora se inicia, promova sempre o desenvolvimento desta sociedade e que realize o grande empreendimento da reconstrução do actual edifício, para maior grandeza desta gloriosa Itajubá."

Dr. Wenceslau Braz fazia referência à construção do 2º pavimento do edifício, grande objetivo da gestão do Dr. José Braz.

Em sua primeira reunião, à noite de 13 de janeiro de 1926, o Presidente Dr. José Braz começou "quente" o mandato, já tratando da reforma, que dotaria o Clube da fachada atual e de dois pavimentos. O Secretário José Maria Afflalo, que acompanharia sempre o Dr. José Braz, registrou "(..) O Presidente, ao tratar da construção do 2º pavimento do edifício do Clube e conseqüente remodelação do prédio, disse ser esse emprehendimento inadiável e que já existindo uma planta organizada e approvada, achava que se devia convocar uma Assembléia Geral, para tratar do importante assumpto, isto é, da authorização para reconstruir o prédio, levantando o respectivo empréstimo e providenciando a alteração de algumas disposições, em nossos Estatutos. Ficou então o Sr. Presidente authorizado a fazer a convocação da Assembléia."

Um mês depois, em 3 de fevereiro de 1926, o Secretario José Maria Afflalo registrava:

"O Sr. Presidente tratando da reconstrução do actual edifício para a sociedade, lembrou a necessidade de se nomear uma comissão para examinar o prédio e dar parecer sobre o projeto já apresentado, ficando designada a seguinte commissão: Dr. Francisco Sanches, Capitão Júlio Limeira, Capitão José Daudt Fabrício, Dr. João Baptista Randolpho Paiva e Major Manoel Mario de Castro Neves."

O Dr. José Braz tinha uma forte personalidade e não perdia tempo. De fato, o velho casarão existente, já mexido de reformas, precisava, efetivamente, de uma boa inspeção, para que fosse verificada a segurança que ofereceria para a construção de um segundo pavimento. Eram velhas paredes de alvenaria de tijolos e antigas fundações de pedra de cantaria.

A Comissão nomeada para esse exame nos demonstra a capacidade gerencial do Dr. José Braz nomeou vários oficiais de Engenharia do 4º BE e o Dr. Randolpho Paiva, que se destacaria, mais tarde, com a construção da Ponte de Concreto em Arcos, sobre o Rio Sapucaí, inaugurada em 1928.

Mas, o grande responsável pela construção do Segundo Pavimento, com controle rigoroso dos gastos, foi o Vice-Presidente Abel Pereira dos Santos. O próprio Dr. José Braz iria reconhecer esse fato. Freqüentemente ausente de Itajubá, muitas vezes em longas temporadas na Europa, o grande mérito do Dr. José Braz foi ter sido o empreendedor da antiga idéia do segundo pavimento, já aprovada na Presidência de José Maria Afflalo. Cabe, também, ao Dr. José Braz a decisão de construir a nova fachada, copiando o projeto do Palácio Petit Trianon de Versailles.

Mas, o grande gerente de obras foi o Sr. Abel Pereira dos Santos.

Em 8 de junho de 1927, em pleno 2º mandato, para o qual a Diretoria havia sido reeleita, o Dr. José Braz declara e o Secretário José Maria Afflalo registra:

"O Sr. Presidente comunicou que as obras do Club vão em estado adiantado e que tendo de se ausentar dentro de poucos dias, a Presidência ficaria com seu substituto legal Abel Pereira dos Santos, que vinha dirigindo os serviços de reconstrução do prédio." O tempo passa. A Grande Reforma parece nunca mais ter fim.

Os custos estavam muito acima dos 80 contos tomados de empréstimo.

Em 30 de setembro de 1927, os custos acumulados estavam acima de 158 contos de réis. O crédito rareava e as obras não podiam parar, sob pena de se ter em mãos um prédio inacabado e impossível de ser usado para qualquer atividade.

À frente da Diretoria, o heróico Vice-Presidente Sr. Abel Pereira dos Santos. Fazendo milagres todos os dias, com a ajuda do empreiteiro Moisés Luigi, paciente, tocando as obras, e com muito dinheiro atrasado para receber.

Em 1º de outubro de 1927, o Vice-Presidente Abel Pereira dos Santos informa ter recebido uma carta do Dr. José Braz sobre "... a conveniência de se levantar um novo empréstimo de 120 contos, para cobrir as despesas com as obras do edifício e para a aquisição do mobiliário necessário para o Club. Assim propunha a Assembléia para 10 de outubro."

Era um alento para o preocupado gerente da obra!

Finalmente, em magnífica solenidade, à noite de 15 de novembro de 1927, sob a Presidência do Dr. José Braz Pereira Gomes, foi inaugurada a reforma do prédio, que lhe acrescentara o 2º pavimento e as feições da fachada do Palácio do Petit Trianon de Versailles.

Além da reforma do prédio, era inaugurada esplendorosa mobília, em estilo clássico francês, adquirida na França, pelo Dr. José Braz. Maior luxo, para a época, impossível!

As mudanças do prédio foram tão profundas, que o Secretário José Maria Afflalo denomina a reunião de 15 de novembro de 1927 de "Sessão Solene de Inauguração da nova Sede Social". Registrou o Secretário:

(.... ) "No recinto achava-se numerosa e selecta assistência e o Presidente disse qual era o programa organizado para solemnizar a data e importante acontecimento para a cidade de Itajubá."

Discursou o Orador Oficial Dr. Francisco Braz Netto. A Ata da inauguração registra 112 assinaturas de cavalheiros presentes. Nem uma só assinatura de senhora ou senhorita! As mulheres não tinham mesmo vez!

Em 17 de novembro de 1927, o Presidente Dr. José Braz convoca outra Assembléia. Nela, a decisão mais marcante foi a mudança do nome da entidade de "Club Litterario e Recreativo Itajubense", que há mais de 30 anos ostentava, para "Club Itajubense", que a menos da grafia da palavra clube, até hoje ostenta. Além dessa decisão, foram aprovadas revisões nos Estatutos, aumentos da jóia e da mensalidade, oficialização da categoria de Sócio Temporário, mudança do nome de Sócio Honorário para Sócio Correspondente, criação do cargo de Diretor da Sede, introdução da venda de Títulos de Sócios Remidos, com custos inversamente proporcionais ao tempo de associação do sócio interessado na compra do título.

Era um esforço desesperado para captar dinheiro, pois os custos da Grande Reforma haviam ficado muito acima da capacidade de endividamento da entidade.

Nesta reunião, o Dr. José Braz foi eleito Sócio Benemérito do Clube.

Em 1º de janeiro de 1928, foi reeleita a mesma Diretoria de 1927, por proposta do sócio Luiz Ramos de Lima.

Era uma forma que os sócios viam de delegar a administração da Dívida do Clube aos seus autores.

O 20 de outubro de 1928 registra aquela que foi, na prática, a última decisão da Diretoria presidida pelo Dr. José Braz, que estava no Rio de Janeiro, com a Presidência entregue ao Vice-Presidente Abel Pereira dos Santos. Foi aprovada a compra de uma "vitrola eléctrica que irradie para outros pontos, da qual o Club de ressentia ", conforme, de maneira curiosa, o Secretário José Maria Afflalo registrou em Ata.

A reunião de 15 de janeiro de 1929 seria a primeira da Diretoria eleita para 1929. No ano da Queda da Bolsa de New York e da Grande Depressão, a administração do Clube começou com uma crise. O Presidente eleito, Sr. Thiago Carneiro Santiago, não compareceu à sua posse e enviou uma carta, renunciando ao cargo. Na mesma reunião, presidida pelo Vice-Presidente, Dr. Luiz de Lima Vianna, ocorre a renúncia verbal do 1º Secretário eleito, Sr. José Verano da Silva. Em nova Assembléia, no dia 30 de janeiro de 1929, por proposta do Dr. José Braz, são eleitos por aclamação, Presidente Dr. Luiz de Lima Vianna, Vice Presidente Capitão Júlio Limeira e Secretário Dr. José de Oliveira Marques.

O Dr. Luiz de Lima Vianna seria reeleito em 1930,1931, 1932 e 1933. A partir de 1933, assume pessoalmente, perante os associados, o compromisso de reformular os Estatutos do Clube e, principalmente, de normalizar a situação financeira da entidade.

De junho de 1934 a maio de 1935, o Clube é administrado por uma Junta Administrativa, composta pelos Srs. Dr. José Rodrigues Seabra, Fortunato Pereira, Balduino Salgado e Francisco de Almeida. Em seguida, a Junta Administrativa se constitui de dois associados, os Srs. José Theotônio Pereira dos Santos e Francisco de Almeida, sob a Presidência do Dr. Luiz de Lima Vianna. Essa situação continuaria até 1940, quando o Sr. Iro Machado passa a ser o único colaborador do Presidente Dr. Luiz de Lima Vianna. Em Assembléia Geral, realizada em 15 de março de 1945, por ele convocada, o Dr. Luiz de Lima Vianna declara aos associados que as finanças do Clube Itajubense estavam em ordem e promove eleições para escolher nova Diretoria.

Vejamos alguns detalhes dessa longa administração do Dr. Luiz de Lima Vianna, o Presidente que mais tempo dirigiu o Clube Itajubense, encontrados nos pouquíssimos registros, que nos restaram dessa época.

Em 1 de junho de 1929, o Presidente Luiz de Lima Vianna, resolve, apesar das dificuldades, realizar a festa do 32º Aniversário do Clube, que se comemorava no 15 de junho. Assim ficou o registro na Ata:

" ...Trocando idéias sobre o assumpto, os membros da Directoria resolveram promover uma reunião festiva aos Srs. Associados, a qual, embora simples, tivesse contudo a alta significação de não deixar passar desapercebida tão auspiciosa data. E, assim, ficou deliberado fazer constar a festa de uma reunião da Directoria, seguida de uma parte artística e terminada por uma parte dançante."

A festa dos 32 anos foi realizada no dia 15 de junho de 1929, com uma Reunião Festiva, de cuja ata, extraímos este trecho de cuidadosa descrição do evento:

"No Salão Nobre do Club, perante selecta assistência, o Sr. Presidente declarou aberta a sessão, que fora, especialmente, convocara para comemoração da data aniversaria da sociedade, e, em expressivas palavras, repassadas de enthusiasmo, communicou aos presentes o programma que fora organizado para festejá-la condignamente, o qual constava das três partes seguintes., uma Reunião da Directoria, que se realizava no momento, uma parte líttero-musical e outra dançante."

Terminada a primeira parte, da reunião, "...o Sr. Presidente agradecendo aos seus collegas de Directoria e às demais pessoas presentes o concurso brilhante, que emprestavam às festividades commemorativas da data aniversaria da sociedade, entregava-lhes as diversas dependências do Club para a realização das outras duas partes do programma organizado, as quais decorreram na mais franca cordialidade e com geral satisfação dos associados presentes."

Em 5 de janeiro de 1930, José Maria Afflalo propõe a reeleição da Diretoria de 1929. Após a reeleição, o Presidente Dr. Luiz de Lima Vianna e o Secretário Dr. José de Oliveira Marques, entre outros, iniciam um esforço concentrado para administrar a Dívida da Grande Reforma. Uma alternativa era aumentar o Quadro Social, expandindo a arrecadação. A cidade estava crescendo muito e o Clube, com os atrativos de sua sede reformada e ampliada de um segundo pavimento, ainda era muito limitado em número de sócios. O Presidente atira-se a esse objetivo com muita disposição. Em 20 de março, o Secretário Dr. José de Oliveira Marques registra:

" (...) A Diretoria estava vivamente empenhada em aumengtar o quadro social, attraindo para o mesmo bons elementos da cidade que da associação ainda se conservavam afastados, e havia resolvido promover os meios necessários para facilitar-lhes o ingresso".

Entre diversas sugestões, adotou-se:

- Promoção do "Mês do Clube", de 20 de março a 20 de abril, durante o qual todos os associados desenvolveriam um trabalho intensivo de captar novos sócios. A jóia que era de 300 mil réis seria reduzida para 100 mil réis, durante esse mês e, seria paga em 5 prestações mensais de 20 mil réis.

- Proposta de construção de um rinque de patinação, no terreno anexo à sede, com a comissão de estudos formada por Dr. Sebastião Osório e Francisco Sanches.

A idéia da Expansão do Quadro Social parecia ir muito bem, como se depreende deste registro de 29 de março de 1930:

"(...) antes de encerrar a sessão, o Sr. Presidente discorreu sobre o enthusiasmo despertado na sociedade itajubense, pela instituição do Mês do Club, medida essa sugerida em AGE, realizada no dia 20 e cujo alcance podia desde logo ser avaliado pelas inúmeras propostas de admissão de sócios novos já recebidas."

Em 1º de janeiro de 1931, durante Assembléia para eleição da nova Diretoria, através de um abaixo assinado, o Dr. Luiz de Lima Vianna é reconduzido à Presidência. Entre outros eleitos, o 1º Secretário é o Sr. Newton Belleza e como tesoureiro o Sr. Jayme Wood.

Em 30 de janeiro de 1931, a Diretoria do Clube enviou oficio de pêsames à D. Maria Virgínia Rennó Pinto, pelo falecimento de seu esposo Eulálio Pinto. Havia falecido o grande promotor da diversão do Cinema e do Teatro, em Itajubá. O homem, que havia constituído o Cine Theatro Appolo e que, durante tantos anos, responsabilizara-se por esse local de diversão da família itajubense, deixou uma grande lacuna com sua morte. O infausto acontecimento havia ocorrido pouco tempo depois do sucesso de sua última promoção em Itajubá: o advento do Cinema Falado, quando até o som do rangido de portas não passava desapercebido aos técnicos de Hollywood!...

A partir de janeiro de 1931 até 1945, os registros que permitiriam um levantamento exato da História do Clube são esparsos e inconstantes. De repente, os administradores deixaram de registrar para a posteridade, sem qualquer explicação para tão inusitada atitude. Houve modificações profundas e tudo atribuível à Dívida contraída com a Grande Reforma de 1926 /27.

Em 2 de novembro de 1932, houve uma Assembléia, sob a Presidência do Vice -Presidente Thiago Carneiro Santiago e secretariada por Antonio Cantelmo. Nessa reunião, o associado Dr. José Rodrigues Seabra fez uma longa exposição. Explicou que o objetivo da Assembléia era buscar meios para normalizar a situação da dívida do clube, através da Reforma dos Estatutos e do Perfil da Dívida. Para tal, seria criada uma categoria de sócio, denominada Sócio-Proprietário, que compraria uma ou mais ações do Clube, no valor unitário de 1 conto de réis.

Foi nomeada uma Comissão para a revisão dos Estatutos, composta de João Feichas, Dr. Carlos Ribeiro Filho, Fortunato José Carlos Peixoto, Dr. Luiz de Lima Vianna e Dr. José Rodrigues Seabra.

Em nova Assembléia, no dia 29 de dezembro de 1932, sob a Presidência de Thiago Carneiro Santiago e com o Secretário Antonio Cantelmo, a Comissão de Reforma dos Estatutos apresentou um relatório, lido pelo Dr. José Rodrigues Seabra. Depois de multas discussões e esclarecimentos, foi aprovada a Reforma dos Estatutos.

No Livro de Atas das Assembléias Gerais há um grande intervalo, com a falta total de registros, entre as datas de 29 de dezembro de 1932 e 10 de março de 1945. Doze anos sem qualquer registro!

No entanto, em uma página isolada do Livro de Atas da Diretoria, de 1925 a 1932, encontramos o registro da sessão de 6 de agosto de 1938. Sob o título de "Ata Especial da Transferência da Junta Administrativa do Club Itajubense", temos a prestação de contas da Junta que saía e a transferência dos trabalhos para a Junta Administrativa, que entrava.

".... Os associados Dr. José Rodrigues Seabra e Fortunato Pereira que, juntamente com o associado Francisco de Almeida, vinham constituindo a Junta Administrativa da Sociedade, passarão os cargos aos Associados Srs. Dr Luiz de Lima Vianna e José Theotonio Pereira dos Santos, continuando o Sr. Francisco de Almeida a desempenhar o cargo de contador".

A Ata dessa Reunião de 1938 nos informa, ainda, de reduções de Taxas de Juros por parte de sócios credores, que possuíam Títulos da Dívida. O Secretário Francisco de Almeida, assim, registrou:

"(...) Em uma reunião havida previamente entre os sócios credores, por proposta do sócio credor Sr. Fortunato José Carlos Peixoto, aprovada pelos demais sócios credores, ficou deliberado baixar-se de dez para cinco por cento a taxa de juros sobre o capital, de que é devedora a Sociedade, para o recebimento dos juros em atraso, desde o 2º semestre de 1933 e a manutenção da citada taxa de cinco por cento, com obrigatoriedade por parte da Sociedade de amortização anual, por Sorteio, com os saldos verificados em balanço. Essa deliberação dos sócios representa mais uma prova de desprendimento para com a Sociedade, a fim de proporcionar-lhe os meios de amortizar a dívida, dentro de um período relativamente mais curto."

Somente em 15 de março de 1945, o Presidente Dr. Luiz de Lima Vianna esclarece a história da luta para o pagamento da Dívida da Grande Reforma de 1926/27. O Secretário Iro Machado, assim, anotou o inicio da fala do Presidente, sobre a Assembléia Geral de 31 de dezembro de 1933:

"Para que possais ter uma idéia perfeita da situação delicada em que se encontrava o nosso CIube, em 31 de dezembro de 1933, quando a vossa generosidade já nos havia confiado a tarefa de assumir a sua administração, basta dizer-vos que a sua dívida, somada aos juros acumulados até aquela data, ascendia à considerável importância de Cr$ 223.139,60..."

E em extenso relato, o Dr. Luiz de Lima Vianna, usando a moeda vigente no País, em 1945 o Cruzeiro - registrou a evolução da dívida e o longo tempo para seu saneamento, quase 12 anos.

No início, parecia não haver solução, pois toda a renda oriunda das mensalidades dos associados era insuficiente para pagar somente os juros.

O Presidente Dr. Luiz de Lima Vianna negociou a dívida com os credores, baixando os juros para a metade "(... ) para que nos fosse dado pô-los em dia e iniciar a respectiva amortização. Foi isso conseguido, graças à boa vontade e ao desprendimento dos credores do Clube que, em comovedora unanimidade, preferiram sempre ver a sociedade reintegrar-se na posse de si mesma a se aproveitarem da oportunidade para apossar-se do seu patrimônio."

À luz dos fatos passados, a História pode registrar que, no Clube Itajubense, houve dois tipos básicos de Administradores, aqueles que construíram obras e aqueles que pagaram as dívidas decorrentes. Ambos se projetaram com destaque, pois se aos primeiros se deve a riqueza do patrimônio, aos segundos se deve a preservação do construído, impedindo que a obra caísse nas mãos dos credores das dívidas. A ambos, construtores e pagadores, deve-se render iguais homenagens e o preito permanente da nossa admiração.

No segundo quartel do século, entre o inicio da Grande Reforma e o término do pagamento das suas dívidas, destacaram-se três homens de igual grandeza, o Dr. José Braz Pereira Gomes, o IDEALIZADOR, o Sr. Abel Pereira dos Santos, o CONSTRUTOR e o Dr. Luiz de Lima Vianna, o PAGADOR.

Aos três, entre centenas de outros, nós devemos o nosso PETIT TRIANON!

Na Assembléia de 15 de março de 1945, foram eleitos Presidente Dr. José Pinto Rennó, Secretário Dr. Antonio Sales Dias e Tesoureiro Basílio Pinto, entre outros, que tomaram posse em 31 de março de 1945.

Em 26 de maio de 1945, a Diretoria do Presidente Dr. José Pinto Rennó tomou uma deliberação curiosa quanto à admissão de sócios estudantes e militares. Autorizou a isenção de jóia para os dois grupos sociais e penalizou os estudantes, que teriam de pagar seis meses de mensalidades adiantados. Já estava melhorada a situação financeira, com a admissão de sócios. E foi contratado a jazz band "Venturelli e seu Ritmo", do grande músico Antonio (Juju) Venturelli Ferrer, para animar as "domingueiras" e os Bailes de Carnaval.

Em 28 de outubro de 1945, a Presidência do Clube estava com o Professor Balduino Vieira Salgado, tendo em vista que o Presidente Dr. José Pinto Rennó havia se mudado para Belo Horizonte. Nesse dia, decidiram pedir ao Prefeito Dr. Carlos Ribeiro Filho o perdão da dívida de impostos municipais atrasados, o que seria conseguido.

Em 16 de dezembro de 1945, decidiu-se que sendo o débito total do clube de pouco mais de 83 mil cruzeiros, seriam pagos 50% da dívida, quitando-se as dívidas com todos os pequenos credores.

No Relatório Final da Diretoria, exposto em 6 de janeiro de 1946, o Presidente Balduino Salgado nos revela o desejo do ex-Presidente Dr. José Pinto Rennó, que não terminara o mandato, ao se mudar para Belo Horizonte. Aquele Presidente pretendia, "... imprimir nova orientação aos destinos do Clube, transformando-o, se possível, em uma sociedade por quotas, afim de que pudéssemos melhorar as suas condições, proporcionando mais conforto e diversões e, conseqüentemente, fazer a ampliação de sua sede. Reforma parcial alguma é aconselhável, tendo-se em vista a necessidade premente de uma reforma radical".

No entanto, considerando a elevação dos preços dos materiais de construção com a 1ª Guerra Mundial e a dívida que precisava ser amortizada, a Diretoria do Presidente Substituto Balduino Salgado deixou de propor essa reforma. Foram pagos 50 % da dívida (um total de Cr$ 46.098,60, entre capital e juros). A diretoria que saía deixou um saldo em caixa.

A nova Diretoria, com o Presidente Cel. Antonio Carlos Belo Lisboa, Secretário Dr. Vicente Sales Dias Filho e Tesoureiro João da Costa Machado, entre outros, foi eleita por aclamação.

Ao tomar posse em 13 de janeiro de 1946, o Coronel Belo Lisboa propôs uma das mais polêmicas mudanças administrativas da História do Clube Itajubense. Afirmou o Cel. Belo Lisboa que, em breve, apresentaria uma nova situação jurídica para o Clube, transformando-o em uma Sociedade por Ações ou por Quotas.

Além do mais, prometia nova Reforma do Prédio, tendo em vista a proximidade do seu cinqüentenário e a liquidação da dívida remanescente.

Em 3 de janeiro de 1946, conforme prometido na posse, o Presidente define:

- Projeto da Transformação do Clube em "CLUBE ITAJUBÁ S.A", com finalidade mercantil e ao mesmo tempo social. O projeto não é transcrito em ata. Somente sua aprovação pela Diretoria, por unanimidade. Seria convocada uma Assembléia Geral para a aprovação do projeto.

No mesmo dia que propõe mudança tão radical, o Cel. Belo Lisboa renova o contrato com o "Jazz Venturelli e seu Ritmo", até 31/12/1946 . Tocaria nos 4 domingos e no último sábado de cada mês ("Domingueiras") e no Carnaval.

Em 28 de fevereiro de 1946, houve uma Assembléia, destinada a transformar o Clube em Sociedade Anônima. A Presidência da Assembléia foi de Fortunato Pereira e a Secretaria do Dr. José de Lima Medeiros. A Assembléia manifestou-se, unanimemente, pela transformação da personalidade jurídica do Clube. Apresentado o projeto do "CLUBE ITAJUBÁ S. A", houve poucos apartes, para revisão de alguns itens do Projeto do novo Estatuto. Chegou-se a um consenso. Seria dado um prazo de 90 dias para os sócios exercerem o direito de compra das ações.

Aprovado o Projeto, houve eleição de uma nova Diretoria e Conselho Fiscal, por aclamação, para a nova Sociedade Anônima. Permaneceu o Cel. Belo Lisboa na Presidência.

Em 8 de junho de 1946, havia passado o prazo dos noventa dias. Ficou decidido "(...) que se aguardasse, não obstante o término do prazo de 90 dias, ontem verificado, o dia 23 do corrente, para a lavratura do instrumento de constituição de Sociedade Anônima da atual sociedade, afim de que as listas mencionadas fossem apresentadas a todos os sócios, para a subscrição de ações."

Em 3 de dezembro de 1946, em outra Assembléia, toda a idéia do Cel. Belo Lisboa foi por água abaixo.

Vários fatores impediram a concretização da transformação do Clube em uma Sociedade Anônima.

Em primeiro lugar, a transformação em si não havia sido legalizada. E não havia mesmo simpatia dos associados com a mudança. A aprovação de proposta tão revolucionária, na Assembléia de dez meses atrás, pode ser atribuída à grande personalidade e poder de argumentação do Cel. Belo Lisboa, autor da idéia.

Bastou um único sócio propor que se anulasse a modificação decidida, em 28 de fevereiro último, para que se obtivesse unânime aprovação. Na Assembléia de 3 de dezembro de 1946, tal fato aconteceu e a proposta do associado Otávio Fonseca foi aprovada. Para alívio geral, o Clube deveria continuar como era antes!

Com isso, ficou determinado que se devolvessem as importâncias recebidas de diversos sócios que, afoitamente, haviam comprado ações.

Mas, a reunião de 3/12/46, ainda, não terminara. Um grupo de sócios (Jayme Wood, Benedito Rocha de Oliveira, Dr. José Ernesto Coelho, Dr. Lima Medeiros, Fortunato Pereira e Thiago Carneiro Santiago) entrou com a proposta de um novo tipo de estrutura jurídica para o clube - a "Sociedade por Quotas".

O objetivo era levantar dinheiro, a ser aplicado em obras e acréscimos. Basicamente, esta era a feição da "Sociedade por Quotas":

- As quotas garantiriam a propriedade do Clube pelo sócio.

- Cada quota teria o valor de Cr$ 1.000,00,

- Cada sócio só poderia adquirir uma quota e a sua venda só poderia ser feita se autorizada pelo Clube.

- Os sócios, que não adquirissem a quota-parte da Sociedade, pagariam mensalidade mais elevada,

- Só teriam direito de voto os sócios-quotistas.

- A quota poderia ser paga em prestações.

O Dr. José Ernesto Coelho propôs e foi aprovada um "Junta Governativa", para dirigir o Clube, sendo escolhidos Fortunato Pereira, Jayme Wood, Dr. José Ernesto Coelho e Dr. José de Lima Medeiros. Foi dado um prazo de seis meses para a Junta Governativa providenciar a modificação da Sociedade.

Em resumo, na Assembléia Extraordinária de 3 de dezembro de 1946, caiu o projeto do Cel. Belo Lisboa de transformar o Clube em uma Sociedade Anônima; foi aprovada a idéia de uma "Sociedade por Quotas"; caiu o próprio Presidente Cel. Belo Lisboa e foi eleita uma "Junta Governativa", para dirigir o Clube, por seis meses.

Em 30 de junho de 1947, ocorreu a primeira Assembléia convocada por sócios, na história do Clube Itajubense.

O pedido apresentava 35 assinaturas e era datado de 2 de Junho de 1947, isto é, exatos seis meses depois da Assembléia de 3 de dezembro de 1946. No dia desse pedido, esgotava-se o prazo dado à Junta Governativa, para modificar a Sociedade.

A Assembléia foi convocada para tratar dos seguintes assuntos:

- Discussão e deliberação sobre as reformas Sociais, Financeiras e Materiais, que a Junta Governativa vinha executando no Clube, sem que para isso tivesse a autorização de uma Assembléia Geral.

-Transformação da Sociedade, conforme determinação da Assembléia de 3/12/1946.

- Leitura, discussão e deliberação sobre os novos Estatutos.

- Eleição de nova Diretoria

- Outros Assuntos de Interesse Geral

A Assembléia foi, segundo a minuciosa ata lavrada por Waldomiro Verano da Silva, uma das mais renhidas, dramáticas e democráticas da história do Clube Itajubense.

Depois da leitura da ata de 3/12/1946, pelo membro da Junta Governativa, Dr. José de Lima Medeiros, que ocasionou acalorados debates, a mesma só pode ser aprovada, depois que todos concordaram que ela não importava na aceitação imediata da transformação da Sociedade.

A seguir, falou o Dr. José Ernesto Coelho, que justificou as Obras de Reforma, que o prédio vinha recebendo, sem aprovação de uma Assembléia, devido à perigosa infiltração, causada pela quebra de uma manilha de esgoto, que estava comprometendo as fundações. O engenheiro quis apresentar uma demonstração dos gastos já incorridos, que ninguém aceitou, em gesto de confiança na idoneidade daquele cidadão.

A seguir, o sócio Luiz Gomes da Silva pediu a leitura de um longo Memorial, pelo sócio Waldomiro Verano da Silva, com 135 assinaturas de sócios. O memorial, alicerçando-se no fato que a Junta Governativa, eleita para apresentar um projeto para a reforma da figura jurídica da Sociedade, já estava administrando, na prática, essa reforma, com a venda de quotas de propriedade do Clube a sócios, sem que para isso tivesse sido autorizada. Os signatários do Memorial não se conformavam com tal procedimento, que estaria ferindo princípios de justiça para com a maioria do quadro social, que não tinha tido seus direitos assegurados. Em termos elegantes, "desde que não era intenção menosprezar ou desprestigiar a qualquer membro da Junta Governativa ", o longo memorial discutia as eventuais conseqüências funestas da Sociedade por Quotas de Capital para aqueles sócios remidos ou sem recursos, que não pudessem comprar a sua quota-parte da nova Sociedade, inclusive com a perda do direito do voto.

A argumentação destacava "... Sócios proprietários do que? De um patrimônio já bastante valioso, feito coletivamente, por todos os sócios, com 50 anos de existência?"

Os signatários do memorial solicitavam que a Assembléia soubesse decidir para:

"(...) manter o Clube dentro dos princípios estipulados em seus Estatutos legalmente registrados, que nos foram legados pelos fundadores e cujo patrimônio, hoje, nos pertence para o desfrutarmos e por dever nos compete legar aos nossos descendentes, numa Sociedade Coletiva, fazendo-nos, assim, plena Justiça, pela Razão e pelo Direito ".

Como o Dr. José de Lima Medeiros tentasse explicar os motivos que "impeliam os dirigentes a levar adiante os projetos de transformação da Sociedade ", motivos esses de ordem financeira, para angariar recursos para as reformas necessárias, visto não ser viável um empréstimo interno, como era maneira usual, "sendo preciso acenar com um título de propriedade, para que muitos sócios subscrevessem quotas", houve uma grande agitação, com apartes e contra-apartes.

A sessão atingiu o máximo do rumor e tumulto e o Sr. Jayme Wood passou a Presidência dos trabalhos para o Dr. Luiz de Lima Vianna.

O novo Presidente da Assembléia resolveu consultar os presentes de forma objetiva por votação.

Retornaram "(..) os nervosos apartes entre os defensores das duas correntes antagônicas ".

Eis que, o Sr Otávio Fonseca afirma que "os sócios presentes não estariam suficientemente esclarecidos" e o Dr. Antonio Salles Dias Filho fica contra "a validade dos votos por procuração."

Mas, houve a votação, apesar dos protestos, e prevaleceram os Votos por Procuração.

A Sociedade por Quotas foi aprovada por 290 votos a favor (dos quais 255 eram por procuração) e 42 votos contra.

O Dr. José de Lima Medeiros pediu marcação de nova Assembléia, para terminar a pauta.

Quanto à eleição de uma Diretoria, o sócio Dr. Barbosa Lima propôs que se prorrogasse por mais 6 meses o mandato da atual Junta Governativa, o que foi aprovado.

Em 16 de julho de 1947, nova Assembléia deu continuação à anterior de 30 de junho. Nela, com as cabeças mais frias, os sócios aprovaram os novos Estatutos, pelos quais o Clube Itajubense se tornava uma "Sociedade por Quotas".

Passaram a existir dois tipos de Sócios Efetivos: Sócio Efetivo Contribuinte - aquele que pagava a jóia e as mensalidades e Sócio Efetivo Quotista - aquele que adquiria uma quota e pagava as mensalidades. A quota era de Cr$ 1.000,00. As Diretorias, a partir desta Assembléia, passaram a ter o mandato de 2 anos.

Nessa Assembléia, o Dr. Luiz, de Lima Vianna foi guindado a Sócio Benemérito, por proposta do Dr. José Ernesto Coelho.

Foi fixado o valor do patrimônio do Clube em Cr$ 1.000.000,00 (Um milhão de cruzeiros).

Embora com muitos apartes, a Assembléia de 16 de julho de 1947 foi tranqüila, sem a agitação, que havia tornado famosa a anterior.

Com a revolucionária alternativa de “Clube Itajubá S/A”, do Cel Belo Lisboa, aprovada em Assembléia de 28 de fevereiro de 1946, e que não foi a frente, caindo junto com seu idealizador, em 3 de dezembro de 1946, até a transformação do clube em uma “sociedade por quotas de capital”, aprovada na Assembléia de 16 de julho de 1947, a história da administração dos primeiros 50 anos do clube encerrou-se com a prorrogação de mandato da junta governativa de 4 sócios, que substituiu o Cel Belo Lisboa, para gerir os destinos da entidade.

Eleita em 03 de dezembro de 1946 e reeleita em julho de 1947, a “junta governativa” era formada pelos sócios Fortunato Pereira, Jaime Wood, e Doutor José Ernesto Coelho, e Doutor José de Lima Medeiros. A ela, competiria, principalmente, a liquidação do remanescente da dívida da grande reforma de 1926 a 1927. Encerra-se com a Assembléia de 16 de julho de 1947, os primeiros 50 anos da história da administração do Clube Itajubense. Um período de muitos sacrifícios e muito pioneirismo. Bem diferente do segundo cinqüentenário, quando a modernidade administrativa acompanhou o extraordinário crescimento da entidade, em patrimônio e em quadro social.

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